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ENGº CELIO FRANCO

"A UTOPIA DA INTERNET LIVRE"

O grande afã da humanidade pela liberdade, a qualquer preço, trouxe na tecnologia dos tempos modernos, mais especificamente nos anos 90, o fenômeno da internet, a rede mundial dos computadores, onde as pessoas, de qualquer parte do mundo, começaram a se encontrar, trocar mensagens, conversar e mesmo 'verem-se uns aos outros', a custos muito acessíveis.

Este fenômeno, no início, assustou aos poderosos, detentores do controle da mídia e das comunicações e provocou grandes reações de sua parte, porquê não entenderam direito como os serviços pelos quais cobravam, e muito, podiam estar à disposição dos reles mortais, sem o seu aval. Neste cenário, muitas novas empresas surgiram e progrediram, levando muitos profetas de plantão a enxergarem e recitarem em prosa e verso o fim dos dinossauros da economia tradicional.

Com certeza, a nova realidade trazida pelas tecnologias de ruptura causaram grandes dores de cabeça nos antes, inatingíveis, barões da mídia e das comunicações. Todavia, o poder aliado ao capital ainda é o mote maior da humanidade e não deve ser subestimado.

A compra da Time Warner pela AOL, no limiar do terceiro milênio, comparada enfaticamente à vitória de David frente a Golias, chegou a parecer o selo definitivo de que a economia virtual substituía a economia formal e que as novas empresas estavam no comando. Contudo, como já dito, o poder aliado ao capital ainda é o mote maior da humanidade e o que passou um tanto despercebido, uma jogada capital, foi a compra da outrora 'guardiã da liberdade' na grande rede, Netscape, pela AOL, obscurecida pela grande compra/fusão a gigante Time Warner.

A partir dos anos 2000, e desse primeiro movimento, uma grande seqüência de jogadas passou a trazer, mais e mais, os antigos e considerados 'em extinção', dinossauros, para a economia virtual, com toda a força de seu 'poder capital', difícil de enfrentar por uma economia incipiente e sem um alicerce sólido. Em todas as áreas do desenvolvimento humano, mormente no comércio eletrônico e nas comunicações começaram a emergir conhecidas e tradicionais companhias, fazendo uso das mais novas tecnologias e conceitos (Data Warehouse / Data Marts, Inteligência Artificial, Web Mining, etc.), aliados a sua grande influência e gigantescas bases de dados. O recado veio 'à cavalo': quem não tiver competência, leia-se capital e poder, está fora, ou no mínimo, bastante encrencado.

Qual a realidade atual, menos de quatro anos após os fatos reportados ?

Temos mais da metade do tráfego da internet mundial centralizado, pode-se ler até mesmo controlado, por mega provedores, grande parcela dos quais ligados às operadoras de TELECOM e empresas da mídia tradicional, por razões óbvias do 'poder capital'. Os grandes 'pseudo portais' que, apoiados na alegação de prover conteúdo e de oferecer uma navegação agradável, praticamente aprisionam seus 'internautas-clientes' dentro de suas 'fronteiras', abdicando da própria denominação primeira: PORTAL, ou seja, o que permite 'adentrar a novas fronteiras' ou o que facilita 'navegar no desconhecido'.

Vemos a transformação gradual da outrora romântica e agradável 'grande rede mundial' em um mega 'camelódromo' virtual, disfarçado sob denominações elegantes, como 'e-commerce', 'e-business', 'B2B / business-to-business', 'B2C / business-to-consumer' e tantas outras, oriundas dos gênios do marketing eletrônico, que pululam e são criadas a cada dia, confundindo até mesmo os expertos, 'camelódromo' este onde a palavra de ordem é vender, qualquer coisa, a qualquer custo e por qualquer meio, sem observar escrúpulos, desconhecendo a ética ou as normas básicas do respeito mútuo, no sentido estrito e pejorativo do lucro-pelo-lucro.

Vemos ainda o outrora brioso 'correio eletrônico', que guardava estreita relação com os gloriosos CORREIOS do mundo real, transformar-se dia-a-dia em apenas outro braço desse 'camelódromo' virtual, onde toda sorte de quinquilharias são oferecidas. Em contraparte, como esta ferramenta se constitui em uma das últimas opções ainda disponível aos 'pequenos atores' do mundo virtual, configurando um 'risco', vemos os mega provedores de serviço e portais, os mesmos detentores do 'poder e capital', apoiarem-se no forte e inatacável argumento da 'necessidade dos filtros ANTI-SPAM', para instalarem mais e mais, na internet, caríssimas tecnologias de última geração, a exemplo dos 'Switches Layer 7 (hardware e software)', com a finalidade de 'filtrar', leia-se excluir ou jogar fora, os e-mails 'indesejáveis'.

A pergunta cabível neste ponto é: INDESEJÁVEIS A QUEM ? ao próprio internauta , que tem as ferramentas para fazer esses filtros, por si mesmo, em qualquer programa de correio eletrônico ou aos provedores de serviço que com esses procedimentos, em primeiro lugar 'aliviam' as suas redes, no mais das vezes precariamente dimensionadas para suportar até mesmo o tráfego de texto, na era da multimídia e, em adição e não de somenos, conseguem exercer, mais uma vez, o CONTROLE sobre seus assinantes, proibindo que lhes cheguem 'mensagens de fora' (promoções comerciais e outras) e tornando-os seu 'mercado-curral', unicamente acessível aos produtos e promoções próprios e de parceiros, leia-se aqui: venda de permissões para envio, venda de cadastros e muitas outras 'possibilidades comerciais' de valor agregado.

Concluindo, para não ser monótono, a internet livre infelizmente já constitui uma utopia.

Durante a 'Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação-ONU', ocorrida em Dezembro de 2003, vimos o foco da discussão girar em torno de vários temas, sem dúvida importantes, como a exclusão trazida pelo abismo tecnológico e a necessidade de conteúdo multicultural, mas em nenhum momento notamos a preocupação dos líderes mundiais ali presentes, ou de seus representantes, com um dos maiores problemas que vivenciamos na grande rede: a possibilidade de vermos concretizado, em breve, o sonho ficcionista do gênio George Orwell, em seu 1984.

Já vivemos em um ambiente de 'liberdade vigiada' quando navegamos pelos 'sites' da grande rede, sob o 'olhar atento' dos mecanismos de 'Web Mining'. Já vivenciamos um ambiente de 'invasão de privacidade' , quando temos nossas correspondências eletrônicas censuradas por desconhecidos, sob alegações válidas mas com propósitos escusos, que poucos ainda conseguem vislumbrar, devido a falta de experiência no 'cyber espaço'. Vivemos um clima de 'terrorismo eletrônico', patrocinado de um lado pelos vírus de computador que somente beneficiam, de alguma forma, os próprios que nos 'protegem' contra eles e de outro, pelos freqüentes ataques dos piratas do mundo virtual, conhecidos como 'hackers', cuja responsabilidade e risco deveria ficar a cargo exclusivo dos detentores do 'poder e capital', que nos incitam, por meio de portentosas campanhas de marketing, a utilizar toda sorte de aplicações envolvendo transferência eletrônica de fundos na internet (internet banking, e-commerce, WebEDI e outros.) mas que, quando vêem o prejuízo configurado, acabam tentando se safar da responsabilidade, alegando falta de competência do 'usuário' no uso de uma simples INTERNET', acessível até mesmo a uma criança...

O que podemos fazer ? Tornarmo-nos especialistas no 'cyber espaço', aprendendo a lidar com toda essa complexidade ou utilizá-lo com bastante cautela, fugindo das campanhas mirabolantes, principalmente dos que detém o' poder-capital', que sempre possuem uma ou mais segundas-intenções, principalmente se a palavra GRÁTIS é utilizada.

14 de Fevereiro de 2004

Engº Celio Franco
Gestor do Portal Nosso São Paulo
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