![]() |
Vemos nesses dias, tanto a grande mídia como o próprio governo, se aliarem no justo ataque às práticas ignóbeis da escravidão branca, nas fazendas do interior desse grande país. Todavia, até mesmo essa atitude, louvável e humana, esconde por detrás uma enorme dose de hipocrisia, ato contínuo na sociedade 'globalizada' e que, segundo nos parece, não tem data marcada para dela ser extirpada, principalmente por passar desapercebida da imensa maioria do povo que, ou não tem acesso a informação ou se contenta em apenas 'digerir' notícias pré-fabricadas e tendenciosas, abdicando da faculdade maior do ser-humano: 'pensar por si'. A escravidão deve ser combatida, em todos os níveis e lugares, até mesmo nas fazendas do interior, onde seres humanos - homens, mulheres e crianças - trabalham, muitas vezes, unicamente em troca do alimento, roupas e moradia ... Por quê então falamos de hipocrisia ?...
Porquê a escravidão branca, nos dias de hoje, não deve ser combatida apenas em determinadas fazendas do interior do país onde a vida, por pior que seja, muitas vezes é melhor e mais saudável do que nas grandes cidades. Pasmem, cidadãos brasileiros, mas a escravidão branca vem sendo praticada, já há vários anos e sob os nossos 'narizes', em grande número das nossas cidades mais modernas, por empresas de todos os portes e nacionalidades e às vistas das 'autoridades competentes'. Vemos aos milhares, mesmo profissionais de 'terno e gravata' e nível 'gerencial', outrora verdadeiros 'executivos' e orgulho da pátria amada, ganhando salários miseráveis, sendo mantidos o mais longe possível de suas famílias por jornadas exorbitantes de trabalho e sem qualquer remuneração adicional, cumprindo ordens como autômatos, sem sequer cogitar em passá-las pelos crivos da razão, da ética profissional e da moral, sob o signo do medo da 'exclusão', pela ameaça constante do 'chicote' da demissão e da fila dos desempregados 'famintos', superqualificados e que trabalhariam pela metade ou até por uma parcela do seu salário... e que cumpririam com satisfação aquela ordem amoral na qual se hesita ou se teima em discutir.
Quanto aos trabalhadores mais humildes, vemos legiões infindas de 'contratados', 'terceirizados', 'quarteirizados' ... e 'esquartejados'..., subempregados de várias nuanças, camelôs, 'micoempresários' e todos os derivados, isso em todos os níveis e todas as profissões, desde as mais simples às mais especializadas que utilizam mesmo o computador, a internet e a robótica. A carteira assinada e o 'emprego fixo', tão desejados aos filhos pelas nossas amorosas mães, passaram a ser execrados como verdadeiros demônios pelos 'head hunters' (caçadores de cabeça na acepção do termo) de plantão e pelos especialistas em RH (onde deveria ser lido 'recursos HUMANOS' que teria a ver com HUMANIDADE...), a serviço exclusivo do capital selvagem e sem comiseração.
Os direitos trabalhistas, conquistados a duras penas pelos trabalhadores brasileiros, passaram a fazer parte da nossa mitologia... . Se ainda existem 'legalmente', ninguém os vê na realidade! E em se falando dos 'direitos legais e legítimos', vemos hordas de lobistas, de vários matizes, esforçando-se ao máximo para extirpá-los, de uma vez por todas, da própria lei, sob o disfarce das bandeiras da 'modernidade', da 'livre negociação', das 'necessidades de economias globais' e outras arengas do gênero, 'vendidas' brilhantemente em caríssimas campanhas de mídia, que se utilizam, inclusive, dos pequenos empresários como 'massa de manobra' para tal, esses, desesperados em encontrar soluções, quaisquer que sejam, para viabilizar os contratos absurdos a que têm de se submeter, frente aos donos do capital e do poder.
Concluindo, a ESCRAVIDÃO, seja branca, negra, vermelha, verde, amarela ou de qualquer outra 'coloração', é um dos males mais sórdidos que ainda persistem no mundo atual. Este mal DEVE ser combatido, tanto pelos governantes como pelos cidadãos do planeta, em todos os seus redutos e por todos os meios, legais e morais. O que se ABOMINA, todavia, e se denuncia com coragem neste artigo, é a hipocrisia do MARKETING da ESCRAVIDÃO, apoiado em uma mídia poderosa, que rende votos e reconhecimento, mas que se restringe na conhecida ELEIÇÃO de 'bodes expiatórios', esses que nem de longe representam o mal em si, não tocando no cerne do problema, empurrado 'para debaixo do tapete'.
Se as autoridades constituídas desejam, realmente, declarar guerra às práticas de 'escravidão branca' vigentes neste país, como é seu DEVER CONSTITUCIONAL e MORAL, devem mobilizar toda a sua estrutura neste sentido, mormente a fiscalização do trabalho e a 'justiça' trabalhista, mas para ações efetivas, verdadeiras e permanentes, que se iniciem pelas MEGA CORPORAÇÕES e, entre essas, pelas estrangeiras, mega corporações que possuem esmerado 'expertise' nas práticas 'escravagistas modernas' dentro desse nosso querido e maltratado BRASIL, que burlam acintosamente a legislação trabalhista, sob a orientação de dispendiosas 'assessorias jurídicas', causando incalculável dano aos trabalhadores e suas famílias, por estenderem a sua ação nociva às empresas menores, ora dando-lhes o exemplo, ora impingindo-lhes contratos inexeqüíveis!"
Finalizamos com uma louvável citação:
Ter escravos não é nada, mas o que se torna intolerável
é ter escravos chamando-lhes cidadãos.
( Denis Diderot -
Biografia
- 1713/1784 )
Incrível como esse filósofo e escritor francês consegue antever, à sua época, e ajuizar como intolerável, a conduta que o governo e os empresários brasileiros adotam na atualidade !!!!
03 de Fevereiro de 2004
Engº Celio Franco
Gestor do Portal Nosso São Paulo
Fale
com o Autor
Outros Artigos de Celio Franco
A SUA OPINIÃO:
![]() |
Portal Nosso São
Paulo - www.nossosaopaulo.com.br
|