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"O ÚLTIMO DESAFIO

(Comp. Júlio Jorge D'Albuquerque Lóssio - R.C. Fortaleza Meireles)

( Artigo publicado na Revista BRASIL ROTÁRIO de SET/2003 )
Cumpramos o Prometido: Erradiquemos a Pólio
- Um Belíssimo Exemplo da UNIÃO entre os Povos -

"A poliomielite, também conhecida como pólio ou paralisia infantil, é uma doença infecto-contagiosa provocada pelo Poliovírus dos tipos I, II ou III - esse último, o vírus selvagem. Nos países em desenvolvimento, devido às limitadas políticas de saúde pública voltadas ao cidadão e ao aumento constante dos bolsões de favela, a cobertura residencial pelo saneamento básico não é completa. A higiene individual também é precária, conseqüência da falta de instrução e de motivação dos habitantes desses locais. Esses fatos, aliados à cobertura vacinal incompleta, criam um ambiente propício à volta da PÓLIO, mesmo nos países onde a doença já foi erradicada. Normalmente, a criança é a contaminada, mas o adulto também corre riscos.

OMS: vacina é a solução

Em geral, a poliomielite leva ao óbito entre 5% e 10% das crianças contaminadas - entre os adultos, esse percentual chega a 30%. Não existe cura para a pólio, só a vacina pode preveni-la. Existem dois tipos de vacinas: a SALK, injetável, descoberta em 1955 e produzida com vírus mortos; e a SABIN (click aqui e conheça Albert Sabin), em gotas orais, desenvolvida em 1959 a partir de vírus atenuados. Esta última é empregada nos EUA desde 1961/62. Por orientação da OMS - Organização Mundial de Saúde, também é aplicada em vários países do mundo, desde 1980.

Um estudo da OMS mostrava que, apesar do uso da vacina, a prevalência da doença era muito alta entre os anos de 1974 e 1987. Ou seja: apesar dos esforços, a média de casos notificados de poliomielite permanecia constante.

Em 1979, ciente da gravidade do problema, o ROTARY INTERNATIONAL - RI, passou a se preocupar com a pólio. As Filipinas foram o primeiro país a receber a atenção do RI, pois lá a doença era endêmica e matava cerca de 1500 crianças por ano. Um projeto 3H no valor de US$ 760mil permitiu a vacinação de 6 milhões de meninos e meninas. Os frutos não demoraram a aparecer: em 1983, o número de óbitos caiu para 43, representando uma redução de 70% em relação aos índices registrados no final da década de 70.

Entre os anos de 1979 e 1984, a Fundação Rotária injetou US$3,7 milhões em 14 países, permitindo a vacinação de 22 milhões de crianças. Os resultados dessas experiências, altamente encorajadores, levaram os dirigentes da Fundação Rotária e de RI a lançarem em 1984 o PROGRAMA PÓLIO PLUS. O objetivo da iniciativa era garantir que 100 milhões de crianças em todo o planeta fossem vacinadas, anualmente, durante um período de cinco anos. Paralelamente, os governos dos países atendidos pelo programa ficariam responsabilizados pelas vacinas contra a coqueluche, o sarampo, a difteria, o tétano e a tuberculose.

Para cumprir o objetivo proposto, a meta era levantar US$ 120milhões, no entanto, para surpresa dos próprios idealizadores do projeto, em 1988 haviam sido arrecadados US$247 milhões, mais do que o dobro do previsto. Nos mesmo ano, a Assembléia da OMS, espelhando-se no sucesso da Pólio Plus, com a presença entre outros, do ROTARY INTERNATIONAL, da UNICEF e do CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA), firmou o compromisso de que o mundo estaria livre da pólio até 2005 (centenário da fundação de RI). A partir daí, foi estabelecida uma estratégia universal de combate à poliomielite, sob responsabilidade da OMS. O Rotary ficou responsável por bancar as vacinas para os países endêmicos que delas necessitassem.

Em 1988, segundo a OMS, a pólio era endêmica em 125 países, vitimando 350 mil crianças todos os anos. Dessas, entre 17,5 mil e 35 mil acabavam morrendo. Graças aos esforços do ROTARY e seus parceiros, em 2001 foram notificados 480 casos em 10 países: três na Ásia - Índia, Paquistão e Afeganistão - e sete na África - Níger, Nigéria, Angola, Egito, Sudão, Etiópia e Somália.

Numericamente, constatou-se que houve uma redução de 99% na incidência dos casos da doença desde o início da campanha mundial de vacinação. Isso significa dizer que, durante esse período, cerca de 5 milhões de crianças deixaram de ser vitimadas pela poliomielite, escapando de ficar paralíticas ou de morrer.

AMÉRICAS e EUROPA livres, ÁSIA e ÁFRICA em risco:

Devido à vacinação em massa, a ocorrência de pólio no planeta vem diminuindo ao longo das décadas. A cronologia de notificações compulsórias mostra que o último registro da doença no Brasil ocorreu em 1989, no município de Souza, estado da Paraíba. O ano de 1991 registrou o último caso nas Américas, que ocorreu no Peru, vitimando um menino chamado Luis Fermin. Em 1997, Mun Chabty foi a última vítima no Camboja e, em 1998, Melik Minas, de quase três anos de idade, foi a última criança contaminada na Turquia.

Com base em dados dos órgãos oficiais de saúde dos países envolvidos, a OMS concede o certificado de erradicação quando não há casos notificados pelo período de três anos. Sendo assim, os países das Américas receberam o certificado ao longo de 1994 - no Brasil, em 29 de Setembro (solenidade em 14 de Outubro).

A erradicação na região do Oeste do Pacífico ocorreu em 2001. Em 2002, foi a vez da Europa. Lamentavelmente, apesar dessas conquistas, a pólio ainda é endêmica em alguns países da África e da Ásia. Segundo a OMS, dos 10 países que registravam a doença em sua forma endêmica em 2001, sete continuaram apresentando esse mesmo quadro no final de 2002. Em três deles - Índia, Paquistão e Nigéria - o vírus tinha alta intensidade de transmissão; em Níger, no Egito, na Somália e no Afeganistão, a intensidade de transmissão era baixa. Apenas em Angola, no Sudão e na Etiópia nenhum caso foi contabilizado.

Nesse relatório, dois dados são bastante preocupantes: o número de ocorrências da doença triplicou, pulando de 480 em 2001 para 1461 casos em 2002. Colaboraram para esse retrocesso uma série de endemias localizadas na Índia - particularmente no Estado de Uttar Pradesh - e na Etiópia. Para piorar, apareceram dois novos países com suspeitas da doença: Zâmbia e Mali, na África.

De acordo com a OMS, entre 1988 e 2001 foram gastos US$1,87 bilhões em ações de combate à pólio. Os maiores doadores, responsáveis por 80% dos fundos empregados nessa luta, foram, pela ordem: o ROTARY, com US$ 493 milhões, o CDC dos EUA, o Reino Unido, o Japão, o USAID e o Banco Mundial, que concedeu um empréstimo à Índia. Os 20% restantes foram patrocinados por vários países, organismos internacionais, fundações, empresas públicas e privadas.

O BRASIL celebrou um pacto de cooperação com o projeto em 1986, durante o governo José Sarney. Com base num contrato assinado entre o ROTARY e o Ministério da Saúde, em 22 de Outubro de 1987, o país recebeu US$ 6 milhões, divididos em cinco parcelas de US$ 1,2 milhões, aplicadas aqui entre os anos de 1987 e 1991. Além destes valores, mais US$ 127 mil foram utilizados em outras despesas de vacinação e vigilância sanitária.

Todos esses recursos, US$1,87 bilhões, e os esforços empregados no projeto permitiram que até o presente momento tenham sido vacinadas 2 bilhões de crianças em 122 países.

PORQUE A PÓLIO PODE VOLTAR:

Analisando-se os relatórios de 2001, produzidos pelas seis regiões administrativas da OMS, verifica-se que cerca de 25% das crianças do planeta não receberam as três doses obrigatórias da vacina antipólio. A maior cobertura vacinal está na Europa, com 94% das crianças vacinadas; em seguida, estão as Américas, com um índice de 90%. A menor média está na África, onde apenas 54% das crianças estão imunizadas. Também preocupa o fato de que o Oeste do Pacífico - onde fica parte da Ásia, a Austrália e a Oceania - região mais populosa do mundo, tenha uma cobertura de somente 80%.

Os dados mostram que a cobertura contra a pólio cresceu entre os anos de 1980 e 1990, atingindo a marca de 80% das crianças. Depois de permanecer nesse patamar até 1997, o índice passou por um decréscimo em 2001, quando atingiu cerca de 75%.

Fica fácil concluir que a falta de cobertura vacinal cria um grupo de risco em todos os países do mundo, que podem voltar a enfrentar o fantasma da pólio. Por esse motivo, em 1991/92, a pólio contaminou 71 pessoas de uma seita religiosa na Holanda, país que tinha uma cobertura vacinal de 95%. Durante o episódio, 54 pessoas ficaram lesionadas. Principal motivo: o grupo se recusou a ser vacinado antes de uma viagem à Índia.

Em 2002, além da ocorrência localizada na Índia, dois países da África - Zâmbia e Mali - ficaram sob suspeita de apresentar casos relacionados ao vírus selvagem da pólio. Eles ainda estão sob investigação. Além disso, devemos considerar que 1 bilhão de pessoas ao redor do planeta são pobres ou miseráveis e vivem em áreas sem saneamento básico. Associe esse quadro à falta de higiene, fator que predispõe ao aparecimento da doença, e as perspectivas voltam a preocupar. Um outro fator a ser considerado é a globalização, processo que facilita o tráfego de pessoas e, consequentemente, dos vírus.

Para agravar o panorama, a erradicação da pólio no planeta passa ainda pela falta de recursos financeiros, pelos problemas culturais e pelos quase 30 conflitos deflagrados atualmente (2003) no mundo, vitimando pessoas e impedindo ou dificultando as ações de imunização.

META PARA 2005 ESTÁ AMEAÇADA:

Todos esses problemas colocam em risco os planos de erradicação da pólio do planeta até 2005. Focando a parte financeira, a OMS mostrou a necessidade de se levantar até lá um total de US$1bilhão. A corrida contra o tempo começou em 2002. Os principais contribuintes, desta vez, serão, em ordem decrescente: o CDC dos EUA, o Reino Unido, o Japão, a Holanda, o Rotary International, a USAID e o Banco Mundial.

O Conselho de Curadores da Fundação Rotária, com o aval do Conselho Diretor de R.I., comprometeu-se a entrar com US$ 80 milhões para cobrir parte do déficit. Por isso, desafiou os rotarianos de todo o mundo a angariarem esse montante durante o ano rotário de 2002-03. O objetivo, mais uma vez, foi cumprido com folgas: cerca de US$ 88 milhões foram levantados no período.

O lema que serve de bandeira nesse desafio é: "Cumpramos o prometido: Erradiquemos a Pólio". Os Rotary Clubs do mundo inteiro estão se engajando na campanha, que tem a sigla "PEFC - Polio Erradication Fundraising Campaign", ou seja, "Campanha de Levantamento de Fundos para a Erradicação da Pólio".

NOVAS ESTRATÉGIAS DE COMBATE:

É fácil concluir que o perigo de não cumprirmos a promessa de erradicação vai além dos recursos financeiros necessários. Um dos maiores problemas é o grupo de risco formado pelas crianças que ainda não foram imunizadas. Em paralelo, temos aqueles problemas anteriormente citados: 1 bilhão de pessoas vivendo com precárias condições de higiene em várias regiões da Terra e a globalização, sem esquecer dos problemas culturais e das guerras. Por tudo isso, é preciso levantar uma bandeira que motive todos os cidadãos do planeta, estimulando neles a responsabilidade pela solução desse problema. Cada cidadão precisa saber que é um interessado direto nesta questão, mesmo porque, se não participar, ele, seus familiares e amigos poderão ser vítimas da pólio que ameaça voltar.

Já os rotarianos precisam de uma bandeira que não se materialize apenas em contribuições financeiras, pois talvez aí esteja um dos principais motivos da evasão. Com base nesse argumento, estamos lançando a campanha: "Para que a pólio não volte, seja um vigilante sanitário" (campanha lançada pelo Rotary Club Fortaleza - Meireles). O objetivo é fazer com que cada cidadão do mundo se transforme num vigilante sanitário, identificando as crianças que não foram imunizadas e convencendo os responsáveis por elas a respeito da importância da vacina (...).

(...) O combate à pólio não tem como único objetivo acabar com as crianças deformadas ou mortas por esse terrível mal. Também significa fazer o mundo economizar US$1,5 bilhões todos os anos com a vacinação, um dinheiro que poderá ser revertido em projetos para a educação, a alimentação, a saúde e outros grandes problemas que afligem a humanidade, destruindo a auto-estima e a cidadania de bilhões de seres humanos.(final)

( Comp. Júlio Jorge D'Albuquerque Lóssio - Rotary Club Fortaleza-Meireles )

Outras Fontes de Informação: Biografia do Dr. Albert Sabin


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