CAPÍTULO 7: "A Prevenção no Ambiente Familiar"
O diálogo familiar é a melhor prevenção contra vários males

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14/Janeiro/2003

O Diálogo familiar é a MELHOR PREVENÇÃO contra vários males 

"Ao tratar deste delicado tema, pretendo mostrar um caminho para os pais estimularem a arte de pensar dos seus filhos e vaciná-los contra o uso de drogas. Tudo o que for dito aqui, pode ser igualmente aplicado na relação professor-aluno.

    Muitos pais têm grande dificuldade em dialogar com os filhos sobre temas polêmicos e conflitantes, mas, se não se esforçarem por vencer essa barreira, os jovens aprenderão esses assuntos com outras pessoas, em qualquer outro lugar: nas ruas, nas escolas, nos clubes, etc. E, muitas vezes, esse aprendizado poderá ser distorcido e, até mesmo, doentio.
    Temos medo de dialogar sobre assuntos dos quais não temos pleno controle. Temos dificuldades em lidar com nossa ansiedade e estimular o debate de idéias. Aprender a criar um clima inteligente, aberto e espontâneo sobre temas complexos e polêmicos estimula a sabedoria e expande as funções mais importantes da psique.

    Os pais e os educadores deveriam aprender a navegar no território da emoção e a ser os primeiros a discutir com os jovens sobre temas ligados ao relacionamento humano, sexo, liberdade social, drogas. Infelizmente, isto é raro de acontecer e, quando acontece, faltam alguns ingredientes estimuladores da arte de pensar."

15/Janeiro/2003

O PRIMEIRO ENSINAMENTO É O QUE MAIS IMPRESSIONA A PERSONALIDADE

 
    "A memória de uma criança é como uma folha em branco, pronta para ser escrita, embora aos sete anos de idade uma criança já tenha milhões de experiências arquivadas. Por isso, a primeira 'impressão' registrada pelo fenômeno RAM, o primeiro ensinamento ou conceito que ela ouve e assimila sobre um determinado assunto é o que mais impressiona a personalidade e incorpora-se a ela.
    Por exemplo, existem jovens e adultos, principalmente do sexo feminino, que têm verdadeiro pavor, pânico, de baratas ou de ratos. Isso porque essas pessoas, quando crianças, ouviram palavras e presenciaram comportamentos de suas mães ou de outros adultos que apontavam as baratas e os pequenos ratos como animais terríveis e ameaçadores. O que ficou na memória não é a dimensão real das baratas e dos ratos, mas o significado da dimensão, conforme mecanismos que já citei.

    Se, ao contrário, essas crianças tivessem sido ensinadas pelos adultos que as baratas e os ratos são apenas e simplesmente animais anti-higiênicos, certamente, quando crescessem, não mostrariam pavor diante deles. Já tive diversos pacientes, inclusive duas educadoras, que não podiam entrar num ambiente onde houvesse uma lagartixa. O problema não era o pequeno réptil de fora, mas o 'enorme réptil' registrado dentro delas."

16/Janeiro/2003

    "Vale a pena refletirmos sobre como o aprendizado inicial, as primeiras experiências de vida nas crianças marcam demasiadamente suas personalidades adultas.

    Podemos transportar esse mesmo princípio para as drogas. Aquilo que as crianças e adolescentes ouvirem e aprenderem a respeito irá construir um conceito, um significado ou representação psicológica das drogas em suas personalidades. Por isso é que os pais, em hipótese alguma, deveriam abrir mão da possibilidade de serem os primeiros a conversar sobre as drogas com seus filhos, de transmitir-lhes seu conceito sobre elas. para isso, eles precisam de informação e educação, que é o objetivo deste livro.
    Depois que os jovens aprenderem o conceito social das drogas com os amigos usuários, cujo compromisso é apenas com o prazer momentâneo, será muito difícil reestruturá-los.

    Do ponto de vista pessoal, acho que os pais devem dialogar com os filhos sobre as drogas quando eles têm entre sete  e onze anos de idade, pois, a partir de então, é bem possível que já tenham aprendido nas ruas, nos cantos das escolas, nos clubes, etc. Fundamentado na importância do aprendizado inicial é que advogo que os pais devem dialogar com seus filhos sobre as drogas, incluindo o cigarro de tabaco e o álcool, a partir dos sete anos de idade."

17/Janeiro/2003

    "Os jovens de hoje, com mais de onze anos, sabem mais sobre drogas do que os pais e a maioria dos professores e, até mesmo, mais do que muitos médicos, visto que boa parcela da classe médica desconhece que diversos medicamentos psicotrópicos são drogas passíveis de provocar dependência. Mas os jovens sabem, porque já ouviram comentários sobre o assunto com outros colegas.

    Se os pais e os educadores não fizerem um debate inteligente sobre as drogas, as crianças e os jovens aprenderão sobre elas em outros terrenos da sociedade. Só que aprenderão sem consciência crítica, sem levar em consideração as conseqüências perigosas podendo, portanto, ser estimulados por elas.

    No mundo todo, milhões de jovens iniciam anualmente o uso de drogas. Eles entram pela porta colorida dos seus efeitos. Começam pelo cigarro de tabaco, passam por bebidas alcoólicas, usando-as em doses cada vez maiores, experimentam o lança-perfume e partem para o uso de maconha e cocaína. Antigamente, a maconha era a porta de entrada para a cocaína. Hoje, muitos jovens iniciam diretamente o uso de cocaína. Não sabem que estão correndo o sério risco de perder o direito de ser livres."

20/Janeiro/2003

COMO DIALOGAR SOBRE AS DROGAS

 
    "Apesar de não haver regras para um diálogo desse tipo, existem alguns princípios:
    - Os pais não devem temer comentar com os jovens os possíveis prazeres momentâneos que as drogas causam, ou seja, os efeitos psicológicos provocados pelo uso delas, inclusive os do cigarro de tabaco.
    - Quando os filhos perguntarem sobre algum tipo de prazer ou efeito psicológico das drogas, os pais devem conversar a respeito, mas sempre ressaltando que nem tudo o que gera algum tipo de prazer é saudável; há coisas que, além de não serem saudáveis, podem ser extremamente destruidoras, das quais existem numerosos exemplos práticos: brincar com fogo, brincar com arma, dirigir carro em altíssima velocidade, etc. Tais atos podem provocar prazer, mas os riscos são enormes e muitas pessoas se destroem com tais práticas.
- Os pais devem ser criativos, espontâneos e autênticos ao dialogar com seus filhos sobre drogas, sexo, futuro, etc. Não devem ser frios, inseguros e rígidos ao tratar desses assuntos polêmicos e nunca devem esquecer que, no caso das drogas, é fundamental comentar que elas podem provocar a Pior Prisão do Mundo, que podem conduzir pessoas inteligentes a serem prisioneiras e infelizes no território da emoção."

21/Janeiro/2003

PROMOVER REUNIÕES COM DEBATE DE IDÉIAS (RDI's)
 
    "Os pais não precisam esperar que os filhos perguntem sobre as drogas para conversar com eles. Como já disse, os pais deveriam ser os primeiros professores dos jovens.
    É recomendável que se façam reuniões exclusivas para falar sobre drogas, sexo, limites e responsabilidades sociais. Chamo essas reuniões de RDI's (Reunião de Debate de Idéias ou de Diálogo). Tais reuniões podem ser realizadas a cada mês. Deve-se fazer tais reuniões ao acaso ou com data marcada ? A experiência já confirmou que, se não forem marcadas previamente, tais reuniões dificilmente ocorrerão.

    Um outro tipo de reunião deve ocorrer com mais freqüência, de preferência semanalmente, é a reunião em que se cultiva o diálogo entre os membros da família. Nessas reuniões os pais devem ouvir seus filhos, trocar experiências, reconhecer seus próprios erros e, se necessário, pedir desculpas a eles. Como é possível que pais reconheçam erros e peçam desculpas aos filhos ? 'Mas isso não está nos manuais de educação!', diriam alguns. Eu diria: 'Não se preocupem com os manuais de educação, porque eles funcionam muito pouco'."

22/Janeiro/2003

    "Pais que exigem dos seus filhos atitudes nobres diante da vida, devem sair do discurso e mostrar tais atitudes em sua própria história. Pois que querem estimular seus filhos a serem sábios, livres, capazes de interiorização, de pensar antes de reagir e de enxergar o mundo não apenas com os próprios olhos, mas também com os olhos dos outros, não devem ter medo de reconhecer seus erros, dificuldades, limitações e, muito menos, de pedir desculpas aos filhos e demonstrar que é possível corrigir rotas em suas vidas.     Tal comportamento vale mais do que mil regras educacionais. Não é fácil educar filhos; é fácil educar os filhos dos outros, mas não os nossos. Não se fabrica a personalidade dos jovens, só é possível estimulá-los e, se o fizermos com sabedoria, semearemos neles as funções mais importantes da inteligência."

23/Janeiro/2003

DIALOGAR SEM DRAMA  

    "Quando falarem sobre as drogas, ou sobre qualquer outro assunto polêmico, os pais não devem fazer drama. Penso que uma postura segura deve ser assumida, mostrando a seriedade do fato, porém num tom de voz natural, não agressivo nem impositivo.
    Se as crianças vislumbrarem nos pais confiança, espontaneidade e serenidade, certamente elas abrirão as janelas de suas inteligências e incorporarão conceitos que irão imprimir no inconsciente uma representação saudável.

    Se, por outro lado, as crianças ouvirem um discurso vazio, rígido, de mão única, carregado de idéias proibitivas sobre o uso das drogas, elas não se vacinarão contra o seu uso. Afirmo que a grande maioria dos jovens que usam drogas e são prisioneiros delas já ouviram, antes de iniciar o uso, seus pais e professores falando mal delas. Que educação é esta que não penetra as entranhas do processo de formação da personalidade ?"

24/Janeiro/2003

    "Tenho dado conferência para muitos educadores e treinado diversos psicólogos. Digo sistemática e enfaticamente a eles que precisamos rever as linhas mestras do processo educacional, ou continuaremos a gerar uma juventude doente, que pouco conhece a arte de pensar.

    Nenhuma planta é saudável se não tem raízes profundas. Dar regras para os jovens e estabelecer limites rígidos de comportamento sem conduzi-los a velejar dentro de si mesmos é totalmente insuficiente para criarem raízes no cerne da inteligência. Quando os pais se reúnem prazerosamente com seus filhos e estimulam o debate de idéias, cria-se um ambiente adequado para discutir o tema drogas. Assim, os jovens não as usarão porque elas são proibidas, mas porque aprenderam a valorizar o espetáculo da vida."

27/Janeiro/2003

NÃO COMENTAR EXTENSIVAMENTE
 
    "Não estender demais as explicações quando se reunirem com os filhos é outro princípio importante. Os pais devem ter um conhecimento geral sobre as drogas, mas não devem desvendar todas as informações que sabem. Caso contrário, a sala de casa se transformará numa fria e pouco interessante sala de aula. Não será um diálogo, mas um monólogo monótono e pouco atraente.

    É muito importante que os pais aprendam a estimular a arte da pergunta. Pergunte mais aos filhos do que responda. Estimule-os a encontrar as suas próprias respostas. É mais seguro e inteligente que tenham as próprias respostas. A arte da pergunta estimula a arte da dúvida, ou seja, leva a pessoa a duvidar dos seus conceitos e abrir-se para outras possibilidades. Por sua vez, a arte da dúvida estimula a arte de pensar, ou a arte da crítica. Esta a Tríade da Ciência: as artes da dúvida, da pergunta e da crítica."

28/Janeiro/2003

    "Se a Educação descobrisse o valor e a necessidade de mesclar a arte da pergunta com a arte da dúvida e da crítica, certamente a arte de pensar passaria por uma revolução. Sem o desenvolvimento dessas três artes, não desenvolvemos multifocalmente a inteligência.

    Os pais devem certificar-se de que os filhos absorveram os ensinamentos, estimulando-os não apenas a pensar, como também a expressar seus pensamentos. Tal procedimento estimulará a segurança, a habilidade intelectual e a auto-estima dos jovens, podendo até corrigir uma característica de personalidade angustiante que tem acometido muitos deles, a timidez.

    Os tímidos falam pouco, mas pensam muito. Para terem uma emoção saudável, protegida e uma inteligência empreendedora, eles precisam aprender a expressar seus pensamentos. As RDIs (Reuniões de Debate de Idéias) podem ajudá-los muito."

29/Janeiro/2003

    "Não se deve preestabelecer tempo para as RDIs mas, de modo geral, não devem ser longas. Elas têm sempre que terminar com o sabor desta frase: 'Que pena, já terminou!' e não com 'Que bom, já acabou!'. Talvez meia ou uma hora sejam o suficiente. Não necessariamente os pais devem iniciar os debates, os filhos também devem iniciá-los.
    O assunto a ser discutido pode não ser as drogas, mas conflitos, dificuldades ou outros temas de interesse dos membros participantes, até profissionais e financeiros. As RDIs podem estimular o amor mútuo e o trabalho em equipe.
    Uma última recomendação: os pais devem aprender a cultivar com seus filhos, o prazer do diálogo conjunto. Se perguntarmos aos pais se apreciam conversar com seus filhos, a grande maioria dirá que sim sem titubear. Todavia, suas atitudes mostram que não. Eles têm tempo para escovar os dentes, mas não para higienizar as relações entre eles; têm tempo para consertar o vazamento de água da torneira, mas não para reparar o vazamento de credibilidade e de respeito entre si; têm tempo para levar o carro ao mecânico, mas não têm coragem de assumir suas dificuldades e de reparar a crise do diálogo.
    Pais e filhos são capazes de ouvir, horas a fio, as personagens da TV, mas não conseguem ouvir com prazer, por alguns minutos, o que está acontecendo no interior uns dos outros."

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