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CAPÍTULO 6: "Causas Psíquicas, Sociais e Genéticas"
Como Alguém se torna dependente das Drogas ?

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09/Dezembro  

    "Como alguém se torna dependente das drogas ?    Neste capítulo estudaremos as principais causas psíquicas e sociais do uso de drogas, além de um comentário sobre a influência genética.    Descreverei as causas didaticamente, usando os dados de uma pesquisa realizada com cerca de 510 universitários, dos quais 244 (47,8% da amostra) responderam que usaram o ainda estão usando algum tipo de droga psicotrópica, mesmo que seja medicamentosa e prescrita por médicos.     Pedimos aos entrevistados que não se identificassem para que tivessem liberdade em suas respostas. O resultado é mostrado a seguir:
  1. Qual a causa ou as causas que o levaram a usar drogas ?

    De acordo com os dados, a causa mais freqüente que levou os universitários a usarem alguma droga psicotrópica foi a prescrição médica, ou receitas médicas. É claro que muitas dessas drogas fizeram parte de um tratamento médico a que o entrevistado estava sendo submetido, apesar de haver notícias de que médicos vendem receitas psicotrópicas a pessoas viciadas, o que é crime.    A maioria das drogas psicotrópicas receitadas pelos médicos são moderadores de apetite, inibidores do sono, indutores do sono, ansiolíticos ou calmantes, xaropes para tosse, relaxantes musculares de ação central e outros.     A indústria dos psicotrópicos será a indústria farmacêutica mais poderosa do século XXI. Em um mundo em que reina a competição predatória, o individualismo e a paranóia de ser o nº 1, os transtornos ansiosos e os estresses batem ás portas de qualquer um, mesmo dos mais saudáveis. No caos em que se encontra a qualidade de vida, os medicamentos psicotrópicos surgem como o grande aliviador das misérias psíquicas, embora não atuem nas causas nem conduzam o ser humano a administrar seus pensamentos e a gerenciar suas emoções."

10/Dezembro 

   "Os medicamentos psicotrópicos deveriam ser atores coadjuvantes do processo terapêutico. O ator principal é o próprio homem, que deveria aprender a proteger sua emoção, lidar com suas intempéries e repensar suas atitudes diante da vida.    Nunca os médicos receitaram tantos psicotrópicos como na atualidade. Infelizmente, muitos não orientam seus pacientes sobre o risco da dependência, nem sobre a necessidade de suspender a medicação após determinado tempo e sobre a melhor maneira de fazer essa suspensão. Tal atitude causa a dependência, uma iatrogenia médica, um erro médico."

11/Dezembro 

"A dependência de certos medicamentos, como os calmantes, raramente causa transtornos importantes como as drogas ilícitas, isso se forem tomados nas doses prescritas pelos médicos. Os antidepressivos dificilmente causam dependência importante, por isso sua retirada é tranqüila, desde que seja feita paulatinamente.    A dependência dos moderadores de apetite é bem mais grave. Em razão da paranóia da estética divulgada nos meios de comunicação, as mulheres sã massificadas com o padrão do belo, do corpo atraente. As jovens magérrimas das passarelas, que muitas vezes são infelizes, deprimidas e escravas da própria estética, tornam-se modelo para milhões de mulheres que, em tese, poderiam ser mais felizes e mais livres que elas. A beleza deveria estar nos olhos de quem as vê e não nas curvas do corpo.    Como não conseguem ter o padrão estético desejado, elas se deprimem e se angustiam muito. Não poucas jovens desenvolvem graves transtornos psíquicos, como a bulimia, que tem entre os sintomas o comer compulsivo associado a vômitos, ou a anorexia nervosa, que gera uma ruptura drástica do instinto da fome, conduzindo algumas a morrerem de inanição.    Muitas mulheres têm uma necessidade doentia e compulsiva de emagrecer. Preocupam-se mais com a embalagem do corpo do que com o território da emoção, do que em serem felizes, soltas, dinâmicas, realizadas. O mundo delas é do tamanho do seu corpo. Por isso, tomam tudo e fazem tudo para alcançar o padrão estético massificado imposto pela sociedade. Muitas tomam moderadores de apetite, indiscriminadamente, ignorando que suas fórmulas contêm estimulantes potentes, tais como o femproporex e a anfepramona. Se não forem usados sob rigoroso controle médico, essas drogas causam dependência nos níveis de cocaína e, em alguns casos, transtornos cardiocirculatórios. Conheci pessoas que morreram pelo uso abusivo desses medicamentos."

12/Dezembro 

 CAUSAS PSÍQUICAS SOCIAIS E GENÉTICAS
  
"Devemos considerar a dependência de medicamentos como um problema sério. Uma vez dependente, a pessoa começa a pressionar o médico para receitá-las, relatando sintomas que são da síndrome de abstinência e não da sua própria doença. Outros procuram tais medicamentos nas farmácias, sem prescrição médica. Embora hajam muitas farmácias sérias, há sempre algumas que burlam a lei.
    Outra pergunta feita aos universitários:
    2- Na sua experiência, qual a fonte mais fácil para se adquirir droga psicotrópica ?
    Se compararmos o resultado acima com o da primeira pergunta (divulgada na mensagem de 09/Dez), podemos observar que, dos 109 universitários que apontaram as receitas médicas como causa do uso de drogas, apenas 73 continuaram assinalando a prescrição médica como fonte onde obtêm a droga. Isso indica que os restantes conseguem a droga sem a intermediação do médico, o que justifica o número significativo de entrevistados que a conseguem nas farmácias, sem prescrição médica. Isso é um forte indício de que muitos começaram a usar drogas psicotrópicas para tratamento médico e, depois, como dependentes, continuaram a usá-las fora de controle e supervisão médica, adquirindo-as nas farmácias, mesmo sem receita do médico.

    Um paciente de 50 anos de idade, advogado, dependente de calmantes (pscicopax, lorax) há mais de seis anos, procurou-me para libertar-se desses medicamentos. Segundo ele, o médico que lhe receitou tais calmantes, pela primeira vez, não o advertiu sobre os perigos da dependência. Por isso, ele os tomava de forma indiscriminada. Quando tentou parar de usá-los, não conseguiu, pois sentia mal-estar, tremores, ansiedade e outros. Tal caso demonstra o perigo que existe na falta de orientação e a responsabilidade que nós, médicos, temos quando receitamos um psicotrópico ao paciente."

13/Dezembro 

Influência de Amigos  

    "Uma árvore, quando gera seus pequenos frutos, sabe como protegê-los, envolvendo-os numa flor ou invólucro; à medida que cresce, o fruto vai se tornando mais exposto ao ambiente externo e, portanto, sujeito a sofrer as perturbações desse meio. Do mesmo modo, quando os pais geram seus pequenos filhos, protegem-nos e vivem ao redor deles; mas à medida que eles crescem, começam a ficar mais expostos à sociedade, às suas perturbações e influências. Freqüentemente, os adolescentes e os adultos jovens são mais susceptíveis a essas influências.

    O homem é um ser social. Ninguém fica plenamente ilhado em seu próprio mundo. Os grupos sociais penetram sob diversas formas no palco de nossas vidas.

    Nos grupos de trabalho, o que une os membros é a execução das tarefas. Entre eles existe uma relação mais fria, distante. Fora do ambiente de trabalho, eles têm poucas raízes. Quando os membros de um grupo de trabalho se desentendem ou se agridem, em geral, ocorre uma separação drástica, às vezes, definitiva. No grupo familiar, graças aos laços afetivos inconscientes, as relações normalmente se reatam, embora, em alguns casos, isso leve anos para acontecer."

16/Dezembro 

 "Nos grupos de lazer, o que sustenta o relacionamento é a busca conjunta de prazer e de relaxamento. Nos adultos, esses grupos não têm muita estabilidade e consistência, porque os laços entre eles não costumam ir além da 'sala de visitas', ou seja, não atingem áreas mais íntimas de suas vidas. Tão logo dois elementos do grupo entrem em atrito, ocorre o rompimento do relacionamento. Quando se reúnem no clube, numa festa, à beira de uma piscina ou num restaurante, raramente compartilham seus conflitos e dificuldades.

    No caso dos jovens acontece o contrário. Eles são bem mais fiéis às amizades e, por isso, suas relações são mais estáveis. Mesmo quando brigam, voltam a se unir. No caso dos adolescentes, as suas próprias brincadeiras costumam ser agressivas. Eles invadem e tocam fisicamente a vida dos seus colegas com facilidade. São mais dados a confidências que os adultos e, geralmente, compartilham uns com os outros os problemas e atritos que têm com os pais, as aventuras e dificuldades escolares, sexuais, etc. Por tudo isso, os jovens recebem uma influência marcante uns dos outros. Ser diferente do grupo significa ser rejeitado, 'estar por fora', não ser alguém realizado nessa fase da vida.    Não é de admirar que estes jovens, por serem fiéis e confidentes uns aos outros, sejam influenciados pelos amigos que usam drogas. Além disso, porque muitos pais não penetraram no mundo dos seus filhos e não conseguiram ser amigos deles, facilmente eles quebram os padrões de comportamento aprendidos em casa, achando que podem viver sozinhos, que já sabem se cuidar, que os pais estão atrasados no tempo.     Se os jovens não aprenderem a arte de pensar, não desenvolverem uma consciência crítica, não tiverem metas e sonhos, poderão ser facilmente influenciados pelos amigos que usam drogas, os quais estão pulverizados em todos os cantos da sociedade. Há mais pontos de venda de drogas nas cidades do que farmácias e butiques. Notem que 14,7% dos universitários que usaram algum tipo de droga disseram que o fizeram por influência de amigos; e esse número deve ser ainda maior na medida em que essa porcentagem representa apenas aqueles que perceberam essa influência, enquanto muitos outros não chegaram a ter consciência dela.    O mundo das drogas tem um apelo fantástico, mas falso: o prazer e a liberdade. Todos procuram, em tudo o que fazem, o prazer e a liberdade; os jovens mais ainda. Neles pulsa o sonho de serem livres e felizes, portanto, tornam-se consumidores ávidos de tudo o que é capaz de ir ao encontro desse sonho. O mundo das drogas encontra neles o consumidor ideal. Nunca um sonho se tornou um pesadelo tão intenso. Nunca a busca do prazer e da liberdade produziu homens tão infelizes e prisioneiros."

17/Dezembro 

Curiosidade ou Desejo de uma Nova Experiência

    "Esta também é uma causa importante, que leva os jovens a se iniciarem no uso de drogas, pois 25,4% dos entrevistados justificaram sua primeira experiência como mera curiosidade.    O que é a curiosidade ? É o desejo de experimentar, conhecer ou desvendar algo novo, oculto, desconhecido. Busca-se por meio da curiosidade a aventura do prazer. A curiosidade brota no cerne da alma de todo ser humano. Os cientistas, por exemplo, são curiosos incuráveis.    Se temos informações sérias acerca do risco de uma experiência, deveríamos ser governados pela lógica e não realizá-las. Alguns cientistas podem ter enorme curiosidade em realizar determinadas experiências genéticas com humanos, mas não as realizam pelo risco de prejudicar, de alguma forma, a humanidade. Como os jovens possuem informações seguras sobre o cárcere a que as drogas podem submetê-los, não deveriam dar vazão à sua curiosidade, pelo risco que correm.    Uma vez adultos, somos responsáveis pelo nosso destino. Deveríamos aprender a pensar antes de reagir, aprender a refletir sobre as conseqüências de nossos comportamentos."

18/Dezembro 

"É preciso discursar de maneira nova e profunda sobre as drogas para que os jovens tenham um conceito adequado das suas conseqüências. O foco principal desse discurso não deveria ter a tônica da frase 'Diga não às Drogas'.    Isso é um desrespeito à inteligência dos jovens. Uma simples frase jamais conterá a emoção borbulhante deles por novas experiências. Proibir simplesmente as drogas, sem alimentar a inteligência com informações convincentes, estimula a curiosidade.    O discurso dos prejuízos físicos e morais das drogas é insuficiente para dar subsídios a eles a fim de tomarem decisões seguras contra elas. É preciso ir além, ter um discurso atraente, inteligente, capaz de causar um impacto no palco de suas mentes. É preciso discursar sobre o cárcere da emoção. É necessário falar sobre as conseqüências filosóficas, psicológicas e sociológicas das drogas.    Entre as conseqüências filosóficas, estão a contração da capacidade de contemplação do belo, o envelhecimento emocional e a perda da sabedoria existencial. Entre as psicológicas, temos a produção inconsciente da imagem superdimensionada da droga, a prisão interior e a perda da liberdade. Entre as sociológicas, podemos citar a perda da liderança, do dinamismo e da motivação."

18/Dezembro 

  "A curiosidade não é um impulso motivacional constante: aparece e desaparece de acordo com o ambiente e as circunstâncias. Cumpre ao eu direcionar a energia da curiosidade para experiências que enriqueçam o espírito humano, a inteligência e a capacidade de empreender novos projetos.    A dependência das drogas deixa os jovens à margem das sociedades, afasta-os do processo de transformação do mundo. Todavia, se canalizassem suas energias para romper os paradigmas e as avenidas doentias das sociedades, certamente suas vidas seriam coroadas de brilho.    Os usuários de drogas são os maiores contestadores e críticos do mundo, mas, paradoxalmente, são os que menos fazem algo para mudá-lo. Tornaram-se aquilo que mais odeiam, vítimas do mundo que contestam. Quem sabe ao lerem essas palavras, ganharão forças não apenas para romper o cárcere de dependência, mas também para serem agentes modificadores da sociedade.    Gosto de conversar com eles. Sei que, embora aprisionados, muitos deles têm uma força incrível que, se liberada, pode causar uma verdadeira revolução dentro de si e no meio que os circunda."

19/Dezembro/2002 

    "A curiosidade não é um impulso motivacional constante: aparece e desaparece de acordo com o ambiente e as circunstâncias. Cumpre ao eu direcionar a energia da curiosidade para experiências que enriqueçam o espírito humano, a inteligência e a capacidade de empreender novos projetos.    A dependência das drogas deixa os jovens à margem das sociedades, afasta-os do processo de transformação do mundo. Todavia, se canalizassem suas energias para romper os paradigmas e as avenidas doentias das sociedades, certamente suas vidas seriam coroadas de brilho.    Os usuários de drogas são os maiores contestadores e críticos do mundo, mas, paradoxalmente, são os que menos fazem algo para mudá-lo. Tornaram-se aquilo que mais odeiam, vítimas do mundo que contestam. Quem sabe ao lerem essas palavras, ganharão forças não apenas para romper o cárcere de dependência, mas também para serem agentes modificadores da sociedade.    Gosto de conversar com eles. Sei que, embora aprisionados, muitos deles têm uma força incrível que, se liberada, pode causar uma verdadeira revolução dentro de si e no meio que os circunda."

02/Janeiro/2003

CONFLITOS INTERIORES 

    "Essa foi a quarta causa apontada pelos universitários que já experimentaram drogas. Os (3) conflitos interiores e, até certo ponto, a (2) curiosidade e a (1) influência dos amigos, estão relacionados com o deficiente processo de formação da personalidade dos jovens no ambiente familiar moderno.
    Os conflitos interiores de um jovem são muitos e podem ser traduzidos por problemas sexuais, depressões, fobias, dificuldades no relacionamento social, insegurança, instabilidade emocional, etc.
    Muitos jovens têm sido vítimas de alguma depressão não diagnosticada. Por estarem deprimidos, alguns buscam no efeito das drogas, incluindo o álcool, uma reação antidepressiva; outros, por serem tímidos, buscam a substância psicotrópica como facilitadora das relações sociais; outros ainda, em virtude de conflitos com os pais, procuram nas drogas um mecanismo de contestação e fuga. Enfim, os conflitos psíquicos podem abrir as comportas da psique, tornando-os mais vulneráveis, ou seja, menos resistentes ao uso de drogas.

    Os sofrimentos humanos, quando bem trabalhados, tornam-se uma ferramenta que lapida a alma e estimula a sabedoria. Infelizmente, o uso de drogas reprime a ação e a consciência do 'eu', resultando no definhamento da capacidade e da habilidade de uma pessoa para trabalhar as experiências dolorosas. Não há pior remédio para a dor que escondê-la, maquiá-la ou anestesiá-la, por meio do efeito psicotrópico das drogas.  

03/Janeiro/2003

O SENTIMENTO DE REJEIÇÃO
 

    "Lembro-me de uma clínica psiquiátrica que conheci na Alemanha, nos arredores de Stuttgart. Na ocasião, enquanto o diretor clínico mostrava-me o seu funcionamento, passamos por um grupo de pacientes farmacodependentes. Um deles comentou com os outros: 'Estão nos visitando como se fôssemos animais num zoológico'. Isso demonstra o quanto alguns usuários de drogas se sentem rejeitados. É preciso ajudá-los, conduzi-los a perceberem que são seres humanos, independentemente de usarem ou não as drogas.

    A discriminação racial, cultural ou de qualquer espécie é um câncer da sociedade. A dor que ela provoca é indescritível. Os que se sentem discriminados podem ter uma motivação a mais para recorrer aos efeitos das drogas como fator de compensação psíquica.

    Sete universitários (na pesquisa 2,8%) responderam que experimentaram drogas pela primeira vez, porque se sentiam rejeitados pelas pessoas. Isso, sem dúvida, também está associado aos problemas do ambiente familiar. Se um jovem está se sentindo rejeitado, não aceito ou não acolhido pelos membros da própria família, com os quais tem convivido por tantos anos, certamente também irá sentir-se rejeitado pelas pessoas no ambiente social, pois, nesse meio, os laços que unem as pessoas são mais frágeis e temporários.

06/Janeiro/2003

"Apesar de, às vezes, não nos darmos conta, várias pessoas que nos rodeiam se sentem rejeitadas, inferiorizadas, motivo pelo qual vivem sempre exigindo uma atenção especial. Tão logo alguém faça um gesto que as desagrade - até mesmo uma simples expressão facial - já se sentem ofendidas. Se fossem mais seguras, não se importariam tanto com as palavras e o comportamento dos outros em relação à sua pessoa.

    Apesar do sentimento de rejeição ser comum, há pessoas com sensibilidade maior, sofrendo muito mais diante de uma situação de rejeição. Dentre essas, existem aquelas que se sentem tão excluídas, tão rejeitadas no ambiente social e familiar que todos os comportamentos adversos ao seu redor tornam-se uma ofensa. Fica difícil estabelecer um relacionamento com esse tipo de pessoa, devido a sua hipersensibilidade emocional e, se não revisarem essa característica de sua personalidade, poderão desenvolver a depressão em alguma etapa de suas vidas.
    Não é difícil concluir que muitos jovens, hipersensíveis e que se sentem discriminados socialmente, tentarão encontrar nas drogas um meio para superar a solidão. Como as drogas não rejeitam ninguém, estando sempre disponíveis, essas pessoas iniciam com facilidade a dramática escalada rumo à dependência. Todos já ouvimos falar daquelas pessoas que, quando começam a consumir bebidas alcoólicas não param mais, embriagando-se compulsivamente.
    É uma afronta à inteligência discriminar um ser humano, seja pela cor da pele ou por sua condição, social, financeira e cultural. Todos temos a dignidade de seres humanos, não devendo nos sentir inferior a qualquer outro.
    Resgatar a auto-estima e o valor real da vida pode nos vacinar, não apenas contra o uso de drogas, mas contra uma série de transtornos psíquicos."

07/Janeiro/2003

PAIS QUE NÃO DIALOGAM

     "Essa causa apareceu na pesquisa em sexto lugar. Mas será que isso está correto ? Será que a maioria deles tinha consciência, ao responder a pergunta, da importância desse diálogo, de como a falta de comunicação aberta e constante com os pais pode ter contribuído para a sua experiência com drogas ? Creio que não.

    O diálogo torna as relações humanas um jardim. Porém, dialogar não quer dizer exatamente conversar. Nas sociedades modernas o ser humano vive ilhado dentro de si mesmo. A solidão é silenciosa. Não sabemos falar de nós mesmos, dos nossos sonhos, dos nossos projetos mais íntimos. Não sabemos discorrer sobre nossas fragilidades, insegurança e experiências mais silenciosas.

    Estamos vivendo ilhados na sociedade: nunca estivemos tão próximos fisicamente e tão distantes interiormente; nunca falamos tanto de coisas que estão fora de nós e nos silenciamos tanto sobre as nossas experiências mais íntimas. Os jovens, os velhos, os iletrados, os intelectuais, têm vivido represados no território da emoção. A crise do diálogo na atualidade é tão grande que, infelizmente, as pessoas só têm coragem de falar sobre si mesmas quando estão diante de um psiquiatra ou de um psicoterapeuta. Por que milhões de pessoas usam drogas? As causas, como temos visto, são muitas, mas temos de saber que dentre elas está a solidão e a crise das relações sociais."

08/Janeiro/2003

INFLUÊNCIA DOS TRAFICANTES

"Ao contrário do que muita gente pensa e do que os meios de comunicação divulgam, é infreqüente que um jovem inicie no uso de drogas por influência de traficantes. De acordo com a pesquisa, a influência de traficantes ocupa o sétimo lugar entre as oito causas que levam a experimentar drogas psicotrópicas.
Os traficantes a que nos referimos são aqueles que vivem exclusivamente do tráfico de drogas. Esses muito raramente induzem os jovens, pois, para tanto, é preciso conquistar a confiança das futuras vítimas, cultivar sua amizade e fazer com que passem a admirá-los. Isso leva tempo, pois é preciso muita habilidade para se sustentar a farsa de ser amigo daquele a quem se pretende introduzir nas drogas.
Na realidade, a grande maioria dos jovens acaba sendo influenciada pelos próprios amigos. Eles sempre compram uma quantidade a mais de maconha, cocaína, comprimidos ('pedras') e outros, suficientes para várias doses. Como se sentem à margem da sociedade, estão sempre atraindo novos membros para o seu grupo social, por isso, oferecem aos iniciantes e esses, num ímpeto de curiosidade e liberdade, iniciam a primeira experiência.
Quando uma pessoa ou um grupo pratica algo que aprecia, tende a divulgar e envolver outras pessoas nessa prática. Se isso é verdade em relação aos adultos, muito mais em relação aos adolescentes, pois, como já foi dito, eles são muito mais coesos nos seus relacionamentos."

09/Janeiro/2003

DIFICULDADES FINANCEIRAS

"Apenas dois universitários responderam que experimentaram drogas por causa de dificuldades financeiras. Apesar de ser uma causa rara entre universitários, é comum nas classes mais pobres. As drogas são utilizadas para aliviar a insegurança, a aflição e os sofrimentos causados pela falta de recursos financeiros mínimos para uma sobrevivência humana digna.

    É claro que as drogas não podem e não têm capacidade para produzir alívio psicológico sadio nessas pessoas; pelo contrário, os problemas aumentam, pois, quando se tornam dependentes, têm de conseguir muito dinheiro e dinheiro que não possuem, para financiar a sua dependência.

    Se não conseguem mediante trabalho honesto, partem para meios ilícitos, para a delinqüência, roubos ou se transformam em pequenos traficantes." 

10/Janeiro/2003

GENÉTICA

  "No campo da neurologia, a carga genética pode provocar alterações metabólicas e deficiências no córtex cerebral, gerando doenças graves, tal como o mongolismo. Na psiquiatria, a carga genética não condena ninguém. Ela não é capaz, por si mesma, de produzir as doenças psíquicas, tais como a depressão, a ansiedade, a psicose, o alcoolismo ou outra dependência química. No máximo, ela pode influenciar o aparecimento dessas doenças.

    Alguns tipos de depressão e transtornos psíquicos podem ter uma influência genética; entretanto, mesmo dois gêmeos idênticos, portanto com a mesma carga genética, podem ter personalidades totalmente distintas, ainda que sejam filhos de pais depressivos. Um pode ter crises depressivas e o outro pode ser alegre, estável e extrovertido. Por que essa discrepância ? Porque as variáveis que produzem a formação da personalidade são multifocais e combinam-se de múltiplas maneiras.

    A carga genética não define as estruturas mais importantes da inteligência, ou seja, a arte de pensar, a capacidade de uma pessoa trabalhar suas perdas, a habilidade de filtrar os estímulos estressantes, de dialogar sobre seus conflitos, de ter prazer nos eventos da vida, de socializar-se e de construir relações saudáveis. O equipamento genético produz, no máximo, os níveis de sensibilidade emocional e o ritmo do fluxo de energia cerebral em que serão construídas as estruturas da inteligênciaproduzidas por diversos fenômenos psíquicos e não físicos. Estudei esse assunto ao longo de dezesseis anos e publiquei-os no livro Inteligência Multifocal."

13/Janeiro/2003

  "A carga genética pode permitir a uma pessoa ser mais ou menos sensível aos estímulos do meio ambiente e aos próprios estímulos internos, tais como os seus pensamentos. Notem que as crianças, ao nascer e ao longo dos primeiros meses de vida extra-uterina, já possuem algumas características próprias: algumas são hiperativas e outras bem calmas; algumas são menos reagentes à dor e outras, ao mínimo desconforto, choram; algumas dormem tranqüilamente e outras, simplesmente, não dormem. Essas características têm propensão genética, embora elas também sejam influenciadas por numerosos fatores ocorridos no desenvolvimento fetal.

    Faltam estudos à Ciência, mas a influência genética deve estar ligada aos neurotransmissores cerebrais, que são como funcionários dos 'correios' do cérebro, transmitindo as mensagens de uma célula nervosa para outra.
    Em alguns casos é possível que haja uma propensão genética para o alcoolismo, mas dificilmente para outras drogas. Alguns pais alcoólatras podem gerar filhos mais introvertidos e sensíveis aos efeitos do álcool, mas nem de longe isso quer dizer que serão doentes como seus pais.
    Tanto os pais gravemente depressivos como os pais alcoólatras podem gerar filhos seguros, livres e alegres, principalmente se o ambiente familiar e educacional estimulá-los a terem metas, sonhos, projetos de vida e a desenvolver a arte de pensar e a capacidade de superação de suas frustrações. Por outro lado, se o ambiente for hostil, agressivo e estressante, ele se associará à influência genética, podendo contribuir para que alguns filhos também desenvolvam a depressão e o alcoolismo."

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