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CAPÍTULO 4: "O Funcionamento da MENTE"
 O sofrimento dos que buscam a liberdade, mas acabam numa prisão.

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31/Outubro

 O FUNCIONAMENTO DA MENTE

    "O que acontece no inconsciente que faz com que a dependência se torne o mais drástico cárcere da inteligência ou a PIOR PRISÃO DO MUNDO ? Por quê, em todo o mundo, milhares de jovens colegiais e universitários, que têm acesso a tantas informações, não conseguem usar sua cultura para romper com as algemas dessa prisão ? Precisamos entrar em algumas áreas ocultas da mente para desvendarmos esse processo.

    A dependência de drogas não atinge apenas os jovens. Conheço também diversos pais, professores, empresários e executivos que se tornaram dependentes e, infelizmente, deve haver milhares deles espalhados pelas sociedades modernas. Por que tais pessoas, que têm consciência do cárcere das drogas, também enfrentam grande dificuldade para reconstruir novos capítulos em suas vidas ? O que faz com que pessoas lúcidas sejam prisioneiras no território em que deveriam ser mais livres ? Além de compreender o funcionamento da mente, também precisamos compreender o significado da droga no inconsciente, para darmos respostas mais seguras a essas perguntas."

01/Novembro

    "Há cientistas, financiados pelas indústrias farmacêuticas, gastando o melhor tempo de suas vidas em ricos institutos de pesquisa para descobrir as causas, fisiologia e tratamento de determinadas doenças. Como tais pesquisas resultarão em medicamentos que trarão enormes retornos financeiros, essas indústrias nem se importam em gastar bilhões de dólares em pesquisas. No entanto, como a dependência de drogas não traz retorno financeiro, ela é uma área abandonada, os poderosos laboratórios não financiam pesquisas nesse campo. Nossos jovens estão sendo destruídos, e poucos se importam com isso.
    Há milhões de pessoas que vivem no cárcere das drogas, incluindo o álcool e medicamentos psicotrópicos sem orientação médica, dos quais se destacam os tranqüilizantes e os moderadores de apetite mas, raramente, encontramos pesquisadores, mesmo nas universidades, preocupados com esse grave problema social."

04/Novembro   

"A falta de pesquisa tem gerado uma série de dúvidas importantes (...) Por exemplo, vamos retomar o famoso e polêmico caso do uso da maconha.
    Há muitas dúvidas sobre a intensidade do mal que essa droga causa. Sabe-se que ela pode alterar a formação dos espermatozóides, diminuir a imunidade e impregnar o cérebro com sua substância psicoativa, o tetrahidrocanabinol, por vários dias. É comum ouvirmos que o cigarro causa mais danos ao organismo que a maconha. Diante disso, alguns indagam: por quê, então, ela não é liberada ? Raramente, alguém consegue dar uma resposta convincente sobre esse assunto.
    Eu não sou um jurista, portanto, não me compete legislar sobre a liberação ou não da maconha. Nem tampouco sou um pesquisador bioquímico, capaz de dar respostas precisas sobre os efeitos físicos da maconha, todavia, como pesquisador do funcionamento da mente, quero dar algumas respostas importantes sobre os efeitos das drogas na construção da inteligência.
    Vou relatar princípios universais que ocorrem com o uso de qualquer substância psicotrópica, mesmo as medicamentosas. Como levantei a questão da maconha, vou fazer uma pausa na minha discussão e relatar sinteticamente seus efeitos nas engrenagens da mente.

    A classificação das drogas, segundo o seu efeito psíquico, sofre variações de acordo com a ótica do pesquisador. A maconha pode causar alucinações, mas o seu principal efeito é tranqüilizante. Como tranqüilizante, é muito potente sobre o cérebro, gerando uma desaceleração dos fenômenos que fazem a leitura da memória, retraindo, assim, o processo de construção de pensamentos e induzindo a produção de fantasias, ou seja, de experiências imaginárias sem uma relação lógica com os parâmetros da realidade."

05/Novembro   

"Toda vez que uma pessoa faz uso de maconha, o fenômeno RAM registra automaticamente na memória os seus efeitos psicotrópicos. Desse modo, a tranqüilização emocional potente, as fantasias e a desaceleração da construção de pensamentos são registradas continuamente no inconsciente. Esse registro conduz à retração de algumas das funções cognitivas mais importantes da inteligência, tais como a capacidade de empreender, criar, superar novos desafios, estabelecer metas e prioridades, perseverar, motivar-se, gerenciar os pensamentos. O uso contínuo e crônico da maconha contrai, assim, as funções intelectuais, engessa a motivação e a capacidade de liderança.

    O que está em jogo não é se a droga deve ou não ser proibida, pois os binômios certo e errado, proibido e não proibido, são muito pobres. O que está em jogo é se a droga compromete ou não o pleno funcionamento da mente e o pleno desenvolvimento das funções intelectuais. O que está em jogo é se a droga financia a liberdade ou encarcera a inteligência. Ainda que alguns tipos de drogas não afetem tanto o organismo, mas se elas comprometem a capacidade intelectual e o direito de ser livre, elas não deveriam ser usadas.

    Esse princípio deve ser aplicado não apenas às drogas químicas, como também às drogas 'não químicas', tais como a dependência da estética do corpo, em que cada grama de peso destrói o prazer pela vida, a dependência da Internet e tantas outras disponíveis no mundo moderno."

06/Novembro

OS TRÊS FENÔMENOS  
 
    "Vamos penetrar, agora, em algumas áreas importantes da engrenagem da mente humana para enxergarmos um pouco mais o cárcere da emoção produzido pelas drogas e outras doenças psíquicas.
    Em primeiro lugar, quero dizer que a inteligência é mais do que emocional, como explica a criativa teoria de Goleman, e é mais do que múltipla, como tão bem esclarece a inteligente teoria de Gardner. A inteligência é MULTIFOCAL(*). Engloba a atuação da emoção e as múltiplas áreas de desenvolvimento da inteligência, como a área musical e a área lógico-matemática. Como disse, ao longo de muitos anos, desenvolvi uma teoria original sobre o funcionamento da mente, chamada de INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL. Como ela trata dos fenômenos universais que estão na base da construção dos pensamentos, ela não é uma teoria que anula as outras, mas contribui com todas elas, inclusive com as teorias aparentemente opostas, tais como a psicanálise e a comportamental.

    Se compreendermos os assuntos que comentarei aqui, teremos uma nova luz para entender a gênese das doenças psíquicas. Existe uma série de fenômenos que participam da construção de cada pensamento, de cada reação emocional. Já comentei sobre dois deles, o fenômeno da psicoadaptação e o fenômeno RAM. Recordemos que o fenômeno da psicoadaptação leva a uma diminuição da experiência emocional frente à exposição do mesmo estímulo e o fenômeno RAM é o fenômeno que registra automaticamente todos os pensamentos e emoções na memória."

07/Novembro

"Do conjunto desses fenômenos, três participam diretamente da dependência de drogas e da produção de doenças. O primeiro é o fenômeno RAM (Registro Automático da Memória); o segundo é o fenômeno da Autochecagem da Memória (fenômeno do gatilho) e o terceiro é o fenômeno da Âncora da Memória.
    Se entendermos, ainda que com limitações, a atuação desses três fenômenos, veremos o horizonte. O mecanismo da produção da farmacodependência e de outros transtornos psíquicos, tais como a depressão, a síndrome do pânico e as fobias, deixarão de ser um tabu incompreensível.

    Os fenômenos do 'gatilho da memória' e da 'âncora da memória' serão novamente enfocados quando comentarmos a terapia multifocal."

10/Novembro

O FENÔMENO DA AUTOCHECAGEM - O GATILHO DA MEMÓRIA 
  
    "O fenômeno da autochecagem na memória, como o próprio nome sugere, verifica automaticamente na memória, os estímulos psíquicos (ex: fantasias), visuais e sonoros, gerando um gatilho que produz as primeiras reações, pensamentos e emoções nas mais diversas situações em que nos encontramos.
    As respostas rápidas e impensadas, as reações instantâneas de ansiedade, irritação e impulsividade, as reações instintivas, os movimentos musculares produzidos sem uma determinação consciente e o menear de cabeça, concordando com nosso interlocutor ou discordando dele, são exemplos de reações produzidas pelo fenômeno do gatilho da memória. Elas não foram programadas ou elaboradas pelo eu, mas produzidas automática e espontaneamente.

    O fenômeno da autochecagem detona o gatilho. Toda vez que vemos um objeto ou uma palavra nós os identificamos automaticamente graças ao gatilho psíquico. Esse conduz o estímulo visual até o córtex cerebral  e o 'autocheca' nos arquivos da memória. A angústia e a indignação inicial quando alguém nos ofende ou nos rejeita não foram programadas pelo eu, mas foram geradas pelo gatilho da memória. Notem que não teríamos determinadas reações instantâneas de agressividade e impulsividade se pudéssemos controlá-las. O fenômeno do gatilho da memória desencadeia as primeiras reações nas relações sociais."

11/Novembro

"O que esse fenômeno tem a ver com a dependência química ? Ele é o grande responsável por detonar o desejo compulsivo de usar uma nova dose de droga, ou seja, por desencadear o cárcere da emoção.
    Um dependente tem desejo compulsivo de usar droga o dia todo, ainda que ele seja um grave dependente ? NÃO ! Esse conceito é errado.
    Ele só vai detonar inconscientemente esse desejo em determinados momentos do seu dia, tais como, quando está na turma de amigos ou vivenciando uma experiência de solidão, angústia ou ansiedade.
    Uma pessoa portadora de síndrome do pânico também é vítima do gatilho da memória. Ela pode estar tranqüila em grande parte do seu tempo, mas, de repente, por diversos mecanismos que não cabe aqui discorrer, o gatilho é detonado, gerando uma reação fóbica intensa, um medo súbito de que vai morrer ou desmaiar. A síndrome do pânico é o teatro da morte. É totalmente possível resolvê-la, mas as reações geradas por ela são muito angustiantes.

    Aprender a reescrever a história e a gerenciar a tensão produzida pelo gatilho da memória é o grande desafio terapêutico na resolução do cárcere da dependência e dos demais transtornos ansiosos, como a síndrome do pânico e as obsessões."

12/Novembro

O FENÔMENO DA ÂNCORA DA MEMÓRIA
  
    "A memória é formada por milhares de arquivos que se interconectam mutuamente, contendo bilhões de informações e de experiências acumuladas ao longo da vida. Ela não está toda disponível para a leitura, mas sim acessível por território, por grupo de arquivos. Âncora da memória é, portanto, o território de leitura disponível em um determinado momento da vida de um indivíduo.
    Dependendo da abertura da âncora, uma pessoa terá melhor ou pior desempenho intelectual, melhor ou pior segurança, melhor ou pior condição de reagir pensar e sentir.
    Por que uma pessoa deixa fluir livremente seus pensamentos quando está sozinha ou diante dos íntimos, mas tem grande dificuldade de liberar suas idéias quando está em público ? Por que um esportista pode ter um ótimo desempenho nos treinos, mas um péssimo desempenho no exato momento da competição ? Tudo depende da disponibilidade do território de leitura da memória.

    Se uma pessoa está tensa, estressada, ansiosa, em determinada situação, poderá fechar a âncora da memória, restringindo seu território de leitura e, consequentemente, comprometer a eficiência da sua inteligência. Se fechamos a âncora, contraímos o raciocínio; se abrimos, expandimos a produção das idéias. As pessoas tímidas, por se sentirem ameaçadas e excessivamente vigiadas no ambiente social, estão continuamente fechando o território de leitura da memória e prejudicando sua liberdade de pensar e sentir."

13/Novembro

"A âncora da memória é muito sensível à intensidade das emoções, por isso, os transtornos psíquicos e os estímulos estressantes, se não forem bem gerenciados, poderão conspirar contra ela. Pessoas inteligentes e lúcidas poderão ter péssimo desempenho em determinados focos de tensão.
    O que a âncora tem a ver com a dependência das drogas ? Tudo ! Quando uma pessoa detona o gatilho da memória, gerando um desejo compulsivo de usar as drogas, esse gatilho direciona a âncora para determinados arquivos ligados às experiências de drogas. Assim, o usuário não pensa em outra coisa a não ser em usá-las. Eis o cárcere gerado pelas drogas. A mais completa definição de dependência psicológica passa pela explicação desses fenômenos.

    Às vezes, o gatilho foi detonado horas antes do uso, deslocando o território de leitura da memória para as zonas da dependência. A conseqüência disso é que os usuários começam a ter um desejo quase que incontrolável de usar as drogas e, por isso, trabalham engenhosamente para procurar uma nova dose, como tentativa de aliviar a tensão gerada por essa compulsividade. A face deles até muda. A serenidade é implodida. São tão controlados pela âncora da memória que mentem para si mesmos e para o mundo, dizendo que não vão usá-las, mas no fundo sabem que irão."

14/Novembro

"A mentira e o uso de drogas são dois amantes que moram na mesma casa, no cerne da alma dos dependentes. Não é possível vencer as drogas sem aprender a ser autêntico, sem aprender a ser honesto até as últimas conseqüências. O primeiro golpe na farmacodependência é aprender a banir a mentira e viver a arte da autenticidade.
    A âncora da memória tem outras funções importantes na inteligência, que aqui não serão detalhadas. Por meio dela, produzimos um universo de pensamentos sobre um determinado assunto ou situação. Entretanto, como já foi dito, se ela se fecha rigidamente num território específico da memória, é capaz de exercer uma verdadeira ditadura na inteligência, que trava a capacidade de pensar. Por isso, quando afirmo que as drogas causam a pior prisão do mundo, refiro-me ao fato de os usuários, sob o jugo do desejo compulsivo de usá-las, perderem completamente a liberdade de pensar e decidir.

    A não ser que o 'eu', representado pela vontade consciente, atue com coragem para abrir a âncora, para expandir o território de leitura dos arquivos da memória, o usuário será um escravo de sua dependência nos momentos de compulsão."

18/Novembro

  "Ocorre o mesmo quando travamos nossa capacidade de pensar em situações tensas. A não ser que nos interiorizemos nessas situações e silenciosamente critiquemos os focos de tensão, bem como os pensamentos negativos que estamos tendo, não conseguiremos resgatar a liberdade de pensar.
    Da próxima vez em que travarmos nossas inteligências, vamos deixar de ser passivos e partir para um ataque íntimo e silencioso nos territórios da memória. Como fazer isso ? É necessário criatividade, produzir pensamentos contra tudo o que está nos algemando.
    Ninguém precisa ouvir, mas devemos fazer uma verdadeira revolução clandestina, não importa onde estivermos.

    Retornando à dependência de drogas, ao invés de criticarmos e marginalizarmos os usuários, deveríamos compreendê-los e acolhê-los com o maior respeito e consideração. Estudaremos como fazer isso. É fácil julgá-los e condená-los, mas é difícil colocar-se no lugar deles e perceber as amarras construídas nos bastidores de suas mentes."

19/Novembro

O FENÔMENO RAM - A BARATA TRANSFORMANDO-SE EM DINOSSAURO

    "O fenômeno RAM é o registro automático na memória de todas as experiências. Ele registra de maneira privilegiada as experiências que têm mais emoção, sejam elas prazerosas ou angustiantes.

Se fizermos uma varredura em nosso passado, verificaremos que temos mais facilidade de recordar as experiências  mais frustrantes ou as mais alegres. Elas foram registradas em áreas importantes da memória, o que as torna disponíveis para serem lidas e utilizadas na construção de novas cadeias de pensamentos e de novas emoções, de modo mais fácil.

Como as drogas produzem efeitos intensos na psique, esses efeitos ocupam espaços importantes nos arquivos inconscientes da memória. Some-se a isso as experiências emocionais de um usuário, que não são nada serenas nem tranqüilas e, por serem borbulhantes, também são registradas privilegiadamente, contribuindo para produzir o cárcere da inteligência."

20/Novembro

"Toda vez que o usuário vai usar uma nova dose de droga, sua emoção está sob um foco de tensão, caracterizado por euforia, angústia, medo, ansiedade, apreensão. Imagine o impacto que uma droga estimulante ou alucinante causa em uma emoção que já está previamente tensa. As experiências psíquicas resultantes são intensas, mais intensas do que os elogios numa festa de aniversário, o recebimento de um diploma ou a emoção de uma partida final de campeonato esportivo. Tais experiências são registradas na memória, usurpando áreas nobres que deveriam ser ocupadas por sonhos, projetos, metas, relações sociais. Por isso, os dependentes tornam-se velhos em corpos jovens. O inconsciente deles fica saturado de experiências angustiantes e turbulentas.    Dá para entender, por meio desse mecanismo, porque os dependentes químicos, com o passar do tempo, perdem o encanto pelos pequenos detalhes da vida, perdem o interesse pelas coisas singelas e não conseguem extrair o prazer das coisas comuns e normais. Só procuram prazer naquilo que foge do padrão da normalidade. Vivem errantes, procurando grandes estímulos para sentir um pouco de prazer. Eles, mesmo odiando essa masmorra, gravitam em torno do efeito psicotrópico destas míseras substâncias."

21/Novembro

"Os usuários de cocaína têm sensações paranóicas durante o efeito da droga. Sentem uma mescla de excitação com medo e têm idéias de perseguição. A reprodução contínua dessas experiências superdimensiona a expectativa dos efeitos das drogas, retroalimentando a imagem delas no inconsciente.

    Trocando em miúdos, cada vez que usam a droga e registram os seus complexos efeitos intensos, eles cavam a própria sepultura, constróem o próprio cárcere. A droga registrada no inconsciente vai ficando, pouco a pouco, muito maior do que a droga química. Ela, que no início era como uma pequena barata, fácil de ser eliminada, transforma-se, paulatinamente, num enorme dinossauro, confeccionado no inconsciente. A imagem superampliada no território da memória aprisiona o grande líder da inteligência, o EU.

    Quanto mais a droga aumenta o monstro no inconsciente, mais difícil fica eliminá-lo, por isso, embora seja possível destruí-lo em qualquer época da vida, é mais fácil nos estágios iniciais."

22/Novembro

  "Agora fica mais fácil entender que a dependência é uma atração irracional, enquanto que a fobia é uma aversão irracional. A dependência é produzida quando se superdimensiona no inconsciente o objeto da atração, no caso, as drogas, enquanto que toda e qualquer fobia é produzida quando se superdimensiona o objeto da aversão que pode ser um animal ou até um elevador.
    No momento em que uma pessoa está tendo uma reação compulsiva pelas drogas sua inteligência é bloqueada, impedindo-a de pensar com liberdade até que consiga uma nova dose da droga. Do mesmo modo, quando uma pessoa está tendo uma reação fóbica sua inteligência é travada e ela não consegue pensar em mais nada a não ser em fugir do ambiente estressante.

    Com o passar do tempo, a droga enquanto substância química não é mais o grande problema. O grande problema passa a ser a imagem dela tecida nos bastidores da mente. Esta imagem é que sustenta a dependência psicológica."

25/Novembro

  "Como apagar a imagem ou estrutura inconsciente da droga que financia a dependência psicológica ? É impossível ! Não se apaga, não se 'deleta' a memória, apenas se pode reescrevê-la. Filosoficamente falando, não é possível destruir o passado para reconstruir o presente, mas é possível reconstruir o presente para reescrever o passado.

    Não dá para apagar o que registramos, mas podemos reorganizá-lo, substituí-lo, refilmá-lo, por meio de novas atitudes, experiências, sonhos, projetos, relações sociais e novas maneiras de ver a vida e reagir aos eventos do mundo."

26/Novembro

"Freud discorreu sobre o inconsciente, mas não investigou os fenômenos que lêem a memória e constróem pensamentos. Por isso, não compreendeu que para resolver os traumas do passado, é insuficiente trazê-los à consciência e trabalhá-los; é tão ou mais necessário reconstruir a cada momento de nossas existências um universo de idéias e pensamentos novos, ricos, e sábios, que vão abrindo novas avenidas na memória e nos porões inconscientes.
    Por que não conseguimos apagar a memória ? Porque não temos habilidade para isso, nem acesso aos dados registrados e não temos sequer conhecimento de onde estão os lócus (locais) das experiências doentias, ou seja, não sabemos onde elas foram registradas. Em que áreas do nosso cérebro foram registradas nossas experiências angustiantes ? Não sabemos.

    Para termos uma idéias da complexidade da memória, apenas uma área do tamanho da ponta de uma caneta em certas regiões do córtex cerebral contém milhões de experiências e informações. Como localizá-las e deletá-las ? Como separar as experiências doentias das saudáveis ? Impossível. Portanto, a única possibilidade que resta ao homem é reconstruir uma nova vida, é reescrever os capítulos principais de sua nova história."

27/Novembro

"É uma corrida contra o tempo. Quanto mais tempo um usuário passa sem as drogas, mais ele vai arquivado novas experiências. Em um dia saudável, ele pode arquivar centenas ou milhares de novas experiências, reeditando assim a sua história. E se o 'eu' atuar nesse processo de reconstrução, se ele resolver não ser mais doente, mas ser um agente modificador da sua história, ele impulsiona esse processo.
    Repito: depois de instalada a dependência, o problema não é mais a droga, mas o arquivo registrado sobre ela. Descaracterizar o monstro virtual, desorganizar esta representação clandestina, torna o tratamento da farmacodependência uma das mais complicadas engenharias da Psicologia e da Psiquiatria.

    Se houver a colaboração corajosa, lúcida e completa do paciente, o tratamento poderá ser coroado de êxito, ainda que haja algumas batalhas perdidas pelo caminho; mas, se houver uma colaboração frágil, instável e parcial, o tratamento estará fadado ao insucesso."

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