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CAPÍTULO
4: "O Funcionamento da MENTE"
O sofrimento dos que buscam a liberdade,
mas acabam numa prisão.
O FUNCIONAMENTO DA MENTE
A dependência de drogas não atinge apenas os jovens. Conheço também diversos pais, professores, empresários e executivos que se tornaram dependentes e, infelizmente, deve haver milhares deles espalhados pelas sociedades modernas. Por que tais pessoas, que têm consciência do cárcere das drogas, também enfrentam grande dificuldade para reconstruir novos capítulos em suas vidas ? O que faz com que pessoas lúcidas sejam prisioneiras no território em que deveriam ser mais livres ? Além de compreender o funcionamento da mente, também precisamos compreender o significado da droga no inconsciente, para darmos respostas mais seguras a essas perguntas."
01/Novembro
04/Novembro
A classificação das drogas, segundo o seu efeito psíquico, sofre variações de acordo com a ótica do pesquisador. A maconha pode causar alucinações, mas o seu principal efeito é tranqüilizante. Como tranqüilizante, é muito potente sobre o cérebro, gerando uma desaceleração dos fenômenos que fazem a leitura da memória, retraindo, assim, o processo de construção de pensamentos e induzindo a produção de fantasias, ou seja, de experiências imaginárias sem uma relação lógica com os parâmetros da realidade."
05/Novembro
"Toda vez que uma pessoa faz uso de maconha, o fenômeno RAM registra automaticamente na memória os seus efeitos psicotrópicos. Desse modo, a tranqüilização emocional potente, as fantasias e a desaceleração da construção de pensamentos são registradas continuamente no inconsciente. Esse registro conduz à retração de algumas das funções cognitivas mais importantes da inteligência, tais como a capacidade de empreender, criar, superar novos desafios, estabelecer metas e prioridades, perseverar, motivar-se, gerenciar os pensamentos. O uso contínuo e crônico da maconha contrai, assim, as funções intelectuais, engessa a motivação e a capacidade de liderança.
Esse princípio deve ser aplicado não apenas às drogas químicas, como também às drogas 'não químicas', tais como a dependência da estética do corpo, em que cada grama de peso destrói o prazer pela vida, a dependência da Internet e tantas outras disponíveis no mundo moderno."
06/Novembro
Se compreendermos os assuntos que comentarei aqui, teremos uma nova luz para entender a gênese das doenças psíquicas. Existe uma série de fenômenos que participam da construção de cada pensamento, de cada reação emocional. Já comentei sobre dois deles, o fenômeno da psicoadaptação e o fenômeno RAM. Recordemos que o fenômeno da psicoadaptação leva a uma diminuição da experiência emocional frente à exposição do mesmo estímulo e o fenômeno RAM é o fenômeno que registra automaticamente todos os pensamentos e emoções na memória."
07/Novembro
Os fenômenos do 'gatilho da memória' e da 'âncora da memória' serão novamente enfocados quando comentarmos a terapia multifocal."
10/Novembro
O fenômeno da autochecagem detona o gatilho. Toda vez que vemos um objeto ou uma palavra nós os identificamos automaticamente graças ao gatilho psíquico. Esse conduz o estímulo visual até o córtex cerebral e o 'autocheca' nos arquivos da memória. A angústia e a indignação inicial quando alguém nos ofende ou nos rejeita não foram programadas pelo eu, mas foram geradas pelo gatilho da memória. Notem que não teríamos determinadas reações instantâneas de agressividade e impulsividade se pudéssemos controlá-las. O fenômeno do gatilho da memória desencadeia as primeiras reações nas relações sociais."
11/Novembro
Aprender a reescrever a história e a gerenciar a tensão produzida pelo gatilho da memória é o grande desafio terapêutico na resolução do cárcere da dependência e dos demais transtornos ansiosos, como a síndrome do pânico e as obsessões."
12/Novembro
Se uma pessoa está tensa, estressada, ansiosa, em determinada situação, poderá fechar a âncora da memória, restringindo seu território de leitura e, consequentemente, comprometer a eficiência da sua inteligência. Se fechamos a âncora, contraímos o raciocínio; se abrimos, expandimos a produção das idéias. As pessoas tímidas, por se sentirem ameaçadas e excessivamente vigiadas no ambiente social, estão continuamente fechando o território de leitura da memória e prejudicando sua liberdade de pensar e sentir."
13/Novembro
Às vezes, o gatilho foi detonado horas antes do uso, deslocando o território de leitura da memória para as zonas da dependência. A conseqüência disso é que os usuários começam a ter um desejo quase que incontrolável de usar as drogas e, por isso, trabalham engenhosamente para procurar uma nova dose, como tentativa de aliviar a tensão gerada por essa compulsividade. A face deles até muda. A serenidade é implodida. São tão controlados pela âncora da memória que mentem para si mesmos e para o mundo, dizendo que não vão usá-las, mas no fundo sabem que irão."
14/Novembro
A não ser que o 'eu', representado pela vontade consciente, atue com coragem para abrir a âncora, para expandir o território de leitura dos arquivos da memória, o usuário será um escravo de sua dependência nos momentos de compulsão."
18/Novembro
Retornando à dependência de drogas, ao invés de criticarmos e marginalizarmos os usuários, deveríamos compreendê-los e acolhê-los com o maior respeito e consideração. Estudaremos como fazer isso. É fácil julgá-los e condená-los, mas é difícil colocar-se no lugar deles e perceber as amarras construídas nos bastidores de suas mentes."
19/Novembro
O FENÔMENO RAM - A BARATA TRANSFORMANDO-SE EM DINOSSAURO
"O fenômeno RAM é o registro automático na memória de todas as experiências. Ele registra de maneira privilegiada as experiências que têm mais emoção, sejam elas prazerosas ou angustiantes.
Se fizermos uma varredura em nosso passado, verificaremos que temos mais facilidade de recordar as experiências mais frustrantes ou as mais alegres. Elas foram registradas em áreas importantes da memória, o que as torna disponíveis para serem lidas e utilizadas na construção de novas cadeias de pensamentos e de novas emoções, de modo mais fácil.
Como as drogas produzem efeitos intensos na psique, esses efeitos ocupam espaços importantes nos arquivos inconscientes da memória. Some-se a isso as experiências emocionais de um usuário, que não são nada serenas nem tranqüilas e, por serem borbulhantes, também são registradas privilegiadamente, contribuindo para produzir o cárcere da inteligência."
20/Novembro
"Toda vez que o usuário vai usar uma nova dose de droga, sua emoção está sob um foco de tensão, caracterizado por euforia, angústia, medo, ansiedade, apreensão. Imagine o impacto que uma droga estimulante ou alucinante causa em uma emoção que já está previamente tensa. As experiências psíquicas resultantes são intensas, mais intensas do que os elogios numa festa de aniversário, o recebimento de um diploma ou a emoção de uma partida final de campeonato esportivo. Tais experiências são registradas na memória, usurpando áreas nobres que deveriam ser ocupadas por sonhos, projetos, metas, relações sociais. Por isso, os dependentes tornam-se velhos em corpos jovens. O inconsciente deles fica saturado de experiências angustiantes e turbulentas. Dá para entender, por meio desse mecanismo, porque os dependentes químicos, com o passar do tempo, perdem o encanto pelos pequenos detalhes da vida, perdem o interesse pelas coisas singelas e não conseguem extrair o prazer das coisas comuns e normais. Só procuram prazer naquilo que foge do padrão da normalidade. Vivem errantes, procurando grandes estímulos para sentir um pouco de prazer. Eles, mesmo odiando essa masmorra, gravitam em torno do efeito psicotrópico destas míseras substâncias."
21/Novembro
"Os usuários de cocaína têm sensações paranóicas durante o efeito da droga. Sentem uma mescla de excitação com medo e têm idéias de perseguição. A reprodução contínua dessas experiências superdimensiona a expectativa dos efeitos das drogas, retroalimentando a imagem delas no inconsciente.
Quanto mais a droga aumenta o monstro no inconsciente, mais difícil fica eliminá-lo, por isso, embora seja possível destruí-lo em qualquer época da vida, é mais fácil nos estágios iniciais."
22/Novembro
Com o passar do tempo, a droga enquanto substância química não é mais o grande problema. O grande problema passa a ser a imagem dela tecida nos bastidores da mente. Esta imagem é que sustenta a dependência psicológica."
25/Novembro
Não dá para apagar o que registramos, mas podemos reorganizá-lo, substituí-lo, refilmá-lo, por meio de novas atitudes, experiências, sonhos, projetos, relações sociais e novas maneiras de ver a vida e reagir aos eventos do mundo."
26/Novembro
Para termos uma idéias da complexidade da memória, apenas uma área do tamanho da ponta de uma caneta em certas regiões do córtex cerebral contém milhões de experiências e informações. Como localizá-las e deletá-las ? Como separar as experiências doentias das saudáveis ? Impossível. Portanto, a única possibilidade que resta ao homem é reconstruir uma nova vida, é reescrever os capítulos principais de sua nova história."
27/Novembro
Se
houver a colaboração corajosa, lúcida e completa do paciente,
o tratamento poderá ser coroado de êxito, ainda que haja
algumas batalhas perdidas pelo caminho; mas, se houver
uma colaboração frágil, instável e parcial, o tratamento
estará fadado ao insucesso."
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