CAPÍTULO 2: "Prisioneiros no Território da Emoção"
Voltar à Página Inicial

Google
 

15/Agosto

"Aqueles cuja emoção gravita em torno dos efeitos das drogas são prisioneiros e infelizes. Se formos avaliar a história dos jovens e adultos farmacodependentes, não poucos deles já atravessaram tantas dores que pensam, numa freqüência muito maior do que a média da população, em suicídio. Por que milhares de jovens, no início de sua história com drogas, hasteiam a bandeira do prazer, mas, quando se instala a dependência, deseja, ainda que por momentos, o fim da vida ? Raramente uma pessoa que mergulha no cárcere da dependência não pensa em suicídio, ainda que, felizmente, esse pensamento não se materialize. Que paradoxo é este ?"

16/Agosto

"A vida humana não suporta ser aprisionada. A liberdade é um embrião que habita a alma humana e não pode morrer. Se a liberdade perece, ainda que pela busca de um certo prazer, provoca-se um caos na emoção. Os usuários de drogas são amantes da liberdade, mas, sorrateiramente, matam aquilo que mais os motiva a viver. Passam por freqüentes crises existenciais, muitas vezes não exploradas pelos profissionais da saúde. E, assim, à medida que afundam nessas crises que vão se repetindo, eles perdem o sentido existencial e caem num tédio insuportável."


19/Agosto

PSICOADAPTANDO-SE AOS PEQUENOS EVENTOS DA VIDA

"A psicoadaptação é um dos mais importantes fenômenos que atuam no inconsciente, nos bastidores de nossas inteligências, e afeta toda nossa história de vida. Por meio dele, podemos compreender as causas que conduzem o ser humano a ser um eterno insatisfeito, um ser que sempre busca novas experiências para garantir seu prazer de viver.
Psicoadaptação é a incapacidade da emoção humana de sentir prazer ou dor frente à exposição do mesmo estímulo. Cada vez que os estímulos se repetem ao longo da nossa história de vida, nós nos psicoadaptamos a eles e, assim, diminuímos inconscientemente a emoção que sentimos por ele.
A repetição do mesmo elogio, da mesma ofensa, mesma paisagem, tela de pintura ... faz com que a emoção se psicoadapte e perca a capacidade de reação. Com o decorrer do tempo, ficamos insensíveis. As mulheres sabem bem disso. Quando compram uma roupa e a usam pela primeira vez, elas experimentam um grande prazer. Entretanto, após usá-la algumas vezes, perdem o encanto por ela. O mundo da moda surge pela atuação traiçoeira do fenômeno da psicoadaptação. A maior parte das mulheres não sabe porque tem que uma necessidade compulsiva de estar no rigor da moda. Na base dessa necessidade cada vez mais comum em nossos dias está o que poucos enxergam, uma exacerbação, que provoca um alto grau de ansiedade e insatisfação."

20/Agosto

"A primeira vez que colocamos um quadro de pintura na parede, extraímos o prazer de cada detalhe dele. Após um mês, talvez passemos por ele sem sequer notá-lo. Podemos psicoadaptar-nos a tudo o que está ao nosso redor, até mesmo à nossa própria miséria. Os que se adaptam à sua miséria psíquica e social nunca conseguirão fazer uma 'faxina' em suas vidas.
Quanto mais uma pessoa tiver dificuldades em extrair prazer daquilo que possui, mais infeliz e angustiada será, ainda que tenha privilégios financeiros. É possível ter muito e ser pobre no cerne da emoção. Por isso, sempre digo que há ricos que moram em favelas e miseráveis que moram em palácios."

21/Agosto

"A psicoadaptação nem sempre é ruim. Há situações em que ela é extremamente útil, pois pode aliviar-nos as dores e frustrações. Ao passarmos por um fracasso, podemos ficar muito angustiados, todavia, com o passar do tempo, nos psicoadaptamos a ele e, consequentemente, podemos superá-lo, bem como a angústia dele decorrente.
Do lado negativo, o fenômeno da psicoadaptação contribui decisivamente para gerar, no palco da psique humana, experiências de tédio, rotina, mesmice e solidão. Porém, mesmo em tais situações, podemos vislumbrar algo positivo na atuação desse fenômeno. O tédio e a rotina geram uma insatisfação oculta que nos impele a superá-los. Dessa busca inconsciente de superação, surge toda forma de criatividade humana. Por que a arquitetura, a literatura, a música e todas as formas de artes estão em contínuo processo de transformação ? Olhem para o estilo dos carros, o design está sempre sendo modificado. Muitos filósofos e pensadores da Psicologia não compreenderam, mas o fenômeno da psicoadaptação gera uma angústia existencial que impulsiona o homem a buscar novas formas de prazer, novos estímulos que o animem."

23/Agosto

"Apesar desse fenômeno ter força para alavancar a criatividade, se ele produzir uma insatisfação contínua e acentuada, que não é superada, pode conduzir à instabilidade emocional e à angústia crônica. Os que nunca terminam o que fazem e sempre reclamam de tudo o que têm, padecem desse transtorno. Se aprenderem a ser amigos da perseverança, a lidar com a angústia existencial e a contemplar os pequenos detalhes da vida, é possível que resolvam esse transtorno emocional."


26/Agosto

PERDENDO A CAPACIDADE DE SENTIR PRAZER

"O que o fenômeno da psicoadaptação tem a ver com a farmacodependência e com outras doenças psíquicas ? Muito ! A atuação dele gera uma das mais graves conseqüências do uso de drogas psicotrópicas e que não é compreendida pela maioria dos psiquiatras e psicólogos.
À medida que os usuários se submetem aos intensos efeitos das drogas, vão se psicoadaptando a eles e, consequentemente, só conseguem excitar a emoção diante de um estímulo mais potente. Como raramente temos no ambiente social estímulos que excitam a emoção tanto quanto as drogas, os usuários acabam perdendo, sem o perceberem, o prazer produzido pelos pequenos estímulos da rotina diária.
Com o decorrer do tempo, eles se tornam infelizes, com grande dificuldade de sentir prazer pela vida. Só conseguem se animar com os grandes eventos, tal como uma festa ou um show e, mesmo assim, precisam usar as drogas para obter alguma excitação emocional. Dessa forma, eles destroem, lentamente e sem ter consciência disso, a parte mais delicada da inteligência humana, a emoção."

27/Agosto

"Os homens que vivem na mídia, que buscam o sucesso como única meta, mesmo que nunca tenham usado drogas, fizeram do próprio sucesso uma 'droga' e,portanto, também destroem o território da emoção, pois perdem, inconscientemente, o prazer nos pequenos detalhes da vida. O sucesso não é ser continuamente feliz, mas construir a felicidade com as coisas singelas da vida. O Mestre dos Mestres da Escola da Vida, Jesus, apesar de ser alguém poderoso e famoso, ainda achava tempo para contemplar atenta e embevecidamente os lírios dos campos.
O importante não é buscar desesperadamente o sucesso, mas aprender a viver desprendido da necessidade compulsiva de ter sucesso. O principal, ao contrário do que os pregadores da motivação proclamam, é ser especial por dentro, ainda que simples por fora.
Os usuários de drogas procuram, mais do que qualquer outro ser humano, grandes aventuras, mas, para nosso espanto, transformam suas vidas num canteiro de tédio e rotina. Eles 'matam a galinha dos ovos de ouro' do prazer existencial."

28/Agosto

"Grande parte dos estímulos que causam prazer no homem não vem das grandes conquistas, tal como a aquisição de um carro novo ou um elogio público, mas dos pequenos elementos da rotina diária, tal como um beijo de uma criança ou um olhar carinhoso.
Quem não aprende a contemplar o belo num diálogo descontraído e no colorido das flores, enfim, nos pequenos detalhes da vida, será invariavelmente um miserável no território da emoção, ainda que seja culto, tenha status social e seja abastado financeiramente.
O homem moderno, em sua maioria, apesar de ir ao cinema, ter uma TV, acessar a internet e possuir diversas outras formas de entretenimento, não é alegre, não é seguro e nem livre, dentro de si mesmo. Se o homem moderno tem tal tendência, imaginemos o caos emocional que não enfrentam os que vivem no cárcere das drogas. Estes fazem de suas vidas uma sinfonia de dor emocional."

29/Agosto

  "Não encontrei até hoje um usuário de drogas que me dissesse que sua vida era um oásis de prazer, mas encontrei diversos que me disseram que ela se tornou um deserto sem sabor.
    Por que muitos usuários pensam em suicídio ? Por três grandes motivos: perdem a capacidade de sentir prazer pela vida, não adquirem habilidade para trabalhar suas perdas e frustrações e não sabem suportar qualquer tipo de ansiedade e humor deprimido.

    Os usuários de drogas comportam-se como se fossem os mais fortes dos homens, pois, se necessário, colocam suas vidas em risco para obter a droga, mas no fundo são frágeis, pois não suportam qualquer tipo de sofrimento. A dor emocional é um fenômeno insuportável para eles. A dor que qualquer velho ou criança suporta, eles não suportam. Por isso, buscam desesperadamente uma nova dose da droga para aliviá-la. Nesse sentido, muitos usuários, após ficarem dependentes, usam as drogas como tranqüilizantes e antidepressivos, ainda que elas sejam ineficazes." 

02/Setembro

"Quanto mais se envolvem neste círculo vicioso, mais se deprimem. Quanto mais fogem da solidão, mais solitários ficam. Quanto mais fogem da ansiedade, mais se tornam parceiros da irritabilidade e da intolerância. Nos capítulos iniciais de sua relação com as drogas, vivem a vida como se ela fosse uma primavera incansavelmente bela, mas nos capítulos finais perdem todas as flores que financiam o encanto da existência, e transformam-na num inverno inesgotável. Nas primeiras doses sentem-se imortais, zombam do mundo e o acham careta, mas com o passar do tempo matam-se um pouco a cada dia. Definitivamente, usar drogas é um desrespeito à própria inteligência. " 

03/Setembro

   "A questão das drogas é muito mais séria do que a questão moral ou jurídica. Elas não devem ser usadas porque são proibidas e nem somente porque trazem prejuízos físicos, mas porque encerram a emoção num cárcere, esfacelam o sentido da vida e destroem o mais nobre dos direitos humanos - a LIBERDADE. " 

09/Setembro

"A sabedoria de um homem não está em não errar e não passar por sofrimentos, mas no destino que ele dá aos seus erros e sofrimentos. Quem consegue eliminar todos os erros e angústias da vida ? Ninguém ! Não há uma pessoa sequer que não passe por desertos emocionais. Os sofrimentos podem nos destruir ou nos enriquecer. Todas as pessoas portadoras de alguma doença psíquica, incluindo os dependentes de drogas, não deveriam se punir e mergulhar numa esfera de sentimentos de culpa, não importa a extensão de sua doença e a freqüência de suas recaídas. Ao contrário, devem assumir com coragem e desafio suas misérias e usá-las como fertilizante para enriquecer sua história. Nisto consiste a sabedoria." 

10/Setembro

"Não devemos nos esquecer de que os que passam pelo caos e o superam ficam mais bonitos por dentro. Os que passam pela depressão, síndrome do pânico ou dependência de drogas e os vencem, tornam-se poetas da vida. Conquistam experiência, solidariedade e sabedoria." 

11/Setembro

NUNCA DESISTIR DE SI MESMO

"Por quê o tratamento de uso de drogas é um dos mais difíceis de ser realizado, seja por meio de clínicas de internação, seja por meio de consultas ambulatoriais ? Porque o problema não está, como pensa o senso comum, nas drogas enquanto substância química. O problema está, como estudaremos, no rombo que elas produzem no inconsciente, na história anônima arquivada na memória.

    A cirurgia cardíaca foi, durante muitos anos, a intervenção médica com menores possibilidades de êxito. Hoje, a possibilidade de uma pessoa morrer no ato operatório ou pós-operatório é mínima. O sucesso ultrapassa 99% dos casos.

    E no caso da dependência de drogas, qual a porcentagem de recuperação ? Faltam estatísticas em todo o mundo. Uma estatística só é válida se ela acompanha os pacientes após anos de tratamento. Contudo, sabemos que as possibilidades de sucesso no tratamento da farmacodependência, embora reais, dependem muito da colaboração do paciente e representam uma das mais baixas da medicina." 

12/Setembro

"Em muitas clínicas, somente 20 a 30% dos pacientes que procuram ajuda espontânea param de usar a droga; isso se considerarmos dois anos de abstenção como critério mínimo de recuperação. Os índices de eficiência do tratamento de câncer são freqüentemente maiores do que os da dependência de drogas. Porém, é possível aumentar esses índices se o paciente colaborar com o tratamento e seguir determinados princípios, dos quais dois são fundamentais: ter a firme convicção de não querer ser uma pessoa doente e nunca desistir de si mesmo." 

13/Setembro

DEUS, A PSIQUIATRIA E A PSICOLOGIA

    "O tratamento psicológico é importante, mas existe algo que a Psiquiatria e a Psicologia não conseguem fazer, que é resgatar o sentido da vida dos dependentes. Eles precisam da Ciência, mas também precisam de DEUS, de crer e respeitar a vida e de amar o seu Criador. A vida é um espetáculo tão grande que a Ciência não consegue descrevê-la."  

16/Setembro

"O que é a vida ? Não há linguagem que possa descrevê-la plenamente. É possível escrever milhões de palavras sobre a vida e, ainda assim, ser impreciso e injusto em relação às suas dimensões. Vivemos na bolha do tempo. As questões mais básicas concernentes à vida não foram resolvidas:    Quem somos ? Para onde vamos ? Como é possível resgatar a identidade da personalidade se, após a morte do cérebro, os segredos da memória se esfacelam em bilhões de partículas ? Que pensador ou cientista conseguiu ao longo da História dar respostas a essas perguntas ? Se as procuraram apenas nos solos da Ciência, foram enterrados junto com suas dúvidas.    (...) no passado, eu achava que DEUS era apenas fruto da imaginação humana. Cria que a busca por DEUS era uma perda de tempo. Hoje penso totalmente diferente. Embora seja crítico do misticismo e procure ser bem científico naquilo que faço, percebo que há um 'buraco' no cerne da alma e do espírito humano que os antidepresivos e as intervenções psicológicas não conseguem preencher, este lugar só o AUTOR DA VIDA pode atingir." 

17/Setembro

"Os farmacodependentes não são pessoas desprovidas de inteligência. Ao contrário, muitos deles são críticos da sociedade e têm tendência para procurar grandes respostas filosóficas para a vida, mas como não as encontram, eles passam a procurá-las nas drogas. Todavia, essas respostas deveriam ser procuradas dentro de si mesmos.

    Podemos ajudar os pacientes a superarem a farmacodependência, os transtornos depressivos, a síndrome do pânico e outros transtornos ansiosos, mas não podemos devolver-lhes o prazer de viver e o sentido da vida. A Psiquiatria e a Psicologia tratam das doenças psíquicas, mas não sabem como fazer o homem ser alegre. Se soubessem, os psiquiatras e os psicólogos seriam os homens mais felizes da Terra mas, infelizmente, não são poucos os que entre eles também têm humor basal triste e desenvolvem depressão." 

18/Setembro

"Na minha experiência clínica, tenho visto claramente que a busca por Deus, independentemente de uma religião, se feita com consciência, pode trazer saúde e tranqüilidade no território da emoção. No livro 'Análise da Inteligência de Cristo - O Mestre da Sensibilidade', demonstrei  que Jesus Cristo cresceu num ambiente agressivo e estressante. Ele tinha todos os motivos para ter depressão e ansiedade, mas para nossa surpresa, era saturado de alegria e segurança. Mesmo no ápice da dor, Ele conseguia brilhar na Sua Inteligência." 

19/Setembro

SUPERANDO O CAOS

  "Se o dependente se psicoadaptar à sua miséria, se não tiver mais esperança de que pode ser livre, não há como ajudá-lo, pois engoliu a chave da sua liberdade. Do mesmo modo, se um paciente com depressão ou obsessão crônica, conformar-se à sua doença, e não acreditar que poderá resolvê-la, terá se tornado seu pior inimigo, terá criado uma barreira intransponível que o impede de ser ajudado. É preciso romper a ditadura do conformismo, caso contrário, nunca encontraremos a liberdade.

    Um dos maiores inimigos do homem é sua baixa auto-estima. A auto-estima não como orgulho superficial e auto-suficiente, mas como respeito e consideração pela vida, é fundamental. O homem que despreza sua vida e a enxerga como uma lata de lixo, jamais terá condições de romper o cárcere da sua doença."

20/Setembro

"É possível resolver as doenças mais graves e crônicas na Psiquiatria, mesmo que já tenha havido tratamentos anteriores fracassados. O importante é não desistir nunca, jamais abandonar a si mesmo. É possível recomeçar sempre, retomar as forças e abrir as janelas da mente para uma nova vida.

    Nestes anos todos de pesquisa psicológica, percebi que nada cultiva mais uma doença do que ter uma postura 'coitadista' diante dela, de se colocar como pobre miserável diante da vida. Por outro lado, nada destrói mais uma doença e esfacela seus mecanismos inconscientes do que enfrentá-la com coragem e inteligência."

23/Setembro

  "Vi pacientes considerados irrecuperáveis, desanimados por tantos tratamentos fracassados, conseguindo resgatar a liderança do eu nos focos de tensão, enfrentando com ousadia não apenas a sua doença, mas seu próprio desânimo. Tais homens deixaram de ser espectadores passivos e tornaram-se agentes modificadores de sua miséria." 

24/Setembro

UM DEBATE SÉRIO

"Um debate sério não implica em desânimo, embora mostre a gravidade do problema. Talvez o maior desafio da Medicina e da Psicologia modernas seja o tratamento da farmacodependência. É possível reescrever o significado inconsciente das drogas na memória, é possível hastear a bandeira da liberdade, ainda que com lágrimas. Só não é possível mudar a história de quem está morto.

    Os governos deveriam ser mais sensíveis em relação a este grave problema social. Por causa do cárcere das drogas, milhões de jovens estão prejudicando e até destruindo drasticamente sua personalidade, seu desempenho intelectual e, consequentemente, o futuro de seu próprio país. São necessários recursos e treinamento para aumentar os índices de eficiência." 

25/Setembro

"Se há uma área abandonada pela sociedade e pelo Estado é a da farmacodependência. As entidades que cuidam do tratamento ambulatorial e da internação desses pacientes precisam de apoio. Os que trabalham nessas entidades são verdadeiros heróis. Dão o melhor de si e do seu tempo para ajudar seus semelhantes e, às vezes, sem remuneração alguma ou com baixa remuneração. Doam-se como poetas anônimos." 

26/Setembro

UMA GUERRA FORMADA POR MUITAS BATALHAS

  "Uma recaída nunca deve ser encarada como a perda de uma guerra. Uma guerra é composta de muitas batalhas. Uma recaída deve ser encarada como a perda de uma das batalhas. Irrigar um usuário de drogas com esperança e estimulá-lo a continuar lutando contra a dependência, mesmo após as recaídas, é fundamental para ajudá-lo a vencer os grilhões da prisão interior.

    Do mesmo modo, devemos lidar com os demais transtornos psíquicos. Se uma pessoa tiver um novo ataque de pânico ou uma nova crise depressiva, após um período de estabilidade, e não souber se reerguer, ela alimentará sua doença. É fundamental não deixar que pensamentos negativos, tais como 'Eu não tenho solução' ou 'Voltou tudo de novo' criem raízes na psique, caso contrário, um sentimento de desânimo paralisará a capacidade de lutar. O grande problema não é a recaída, mas o que se faz com ela." 

27/Setembro

  "Para evitar os deslizes ou tornar-se uma pessoa mais forte após uma recaída, é necessário verdadeira engenharia intelectual, composta de vários itens:
 
    1- Nunca desistir de si mesmo. Tentar sempre. Aprender a ser um agente modificador da sua história.
    2- Não se psicoadaptar à sua doença, ou seja, não se auto-abandonar.
    3- Não ter medo das suas dores e frustrações, mas trabalhá-las com dignidade.
    4- Aprender a ter prazer nos pequenos eventos da vida.
    5- Resgatar a liderança do eu nos focos de tensão.
 

    Nenhum tratamento pode ser coroado de sucesso se os pacientes não enriquecerem sua história emocional e fortalecerem sua capacidade de administrar seus pensamentos." 

30/Setembro

"Muitos prometem que nunca mais irão usar drogas. Uns dizem: 'Pelos meus filhos, eu nunca mais vou usá-las'. Outros prometem: 'Pelos meus pais, jamais voltarei a usá-las'. Outros, tomando as lágrimas como seu endosso, proclamam: 'Drogas não fazem mais parte de minha vida'.
    Todos são sinceros nestas afirmações ? SIM.
    Mas por que não as sustentam ? Porque não conhecem o funcionamento da mente, não compreendem a sinuosidade das construção do pensamento, não sabem que nos focos de tensão suas inteligências são travadas e são impossibilitados de raciocinar com liberdade.

    Os usuários de drogas são os que mais fazem promessas no mundo e os que menos cumprem suas promessas, perdendo apenas para alguns políticos !" 

01/Outubro

   "Deixo um recado aos que nunca usaram drogas, um recado não moralista, mas de alguém que conhece um pouco o cárcere da emoção e pesquisa o funcionamento da mente: Não é preciso usar drogas para saber seu efeito; se alguém insistir para que as use, procure primeiro a opinião daqueles que querem se libertar delas.
    A maioria das pessoas que experimenta drogas não se torna dependente. Entretanto, o uso contínuo de drogas nos arquivos da memória é tão grave que o conselho da desnecessidade de usá-las se justifica. Justifica-se tanto como a prevenção da AIDS. Nenhum médico de bom senso aconselha alguém a ter relação sexual com múltiplos parceiros, mesmo sabendo que dificilmente uma pessoa contrai o vírus HIV em apenas um ato sexual.
    Infelizmente, muitos acabam tendo a experiência do uso de drogas, apesar de toda a advertência. E o que é pior, costumam ter a experiência em momentos em que não estão preparados para tê-la, em momentos em que estão fragilizados, atravessando conflitos e crises existenciais. Nesses momentos, eles ficam mais vulneráveis a cair nos laços da PIOR PRISÃO DO MUNDO." 

02/Outubro

 A MEMÓRIA E OS ALICERCES DA PERSONALIDADE - O FENÔMENO RAM
 
    "Diariamente produzimos inúmeras cadeias de pensamentos, ansiedades, sonhos, idéias negativas, pensamentos antecipatórios, angústias, prazeres, que são arquivados automaticamente na memória. Em um ano registramos milhões de experiências.
    O registro das experiências na memória é involuntário, não depende da vontade consciente do homem. Você pode ser livre para ir onde quiser, mas não é livre para decidir o que quer registrar na sua memória. Se viveu experiências ruins, elas se depositarão nos porões inconscientes da memória. Se hoje passou por uma angústia, uma situação de medo, uma crise de agressividade, tenha certeza de que tudo isso está registrado em sua memória.

    Cuidar da qualidade daquilo que é registrado em nossas memórias é mais importante do que cuidar de nossas contas bancárias. Nestas, você deposita dinheiro; naquelas, você faz os depósitos que financiarão a sua riqueza emocional." 

03/Outubro

"À medida que as experiências são registradas automaticamente na memória, ocorre a formação da história de vida ou história da existência. Os beijos dos pais, as brincadeiras de crianças, os desprezos, os fracassos, as perdas, as reações fóbicas, os elogios, enfim, toda e qualquer experiência do passado forma a colcha de retalhos do inconsciente da memória que influencia nossas reações no presente. (...)

    Cada pensamento e emoção são registrados automaticamente por um fenômeno que chamo RAM (Registro Automático da Memória). O homem não teria compreensão dos seus direitos se não tivesse uma história. Sem ela, ele nem mesmo produziria pensamentos ou teria consciência da sua existência. Dessa forma, o tudo e o nada, o ter e o ser, seriam a mesma coisa para ele."

04/Outubro

"Todas as experiências que possuímos são registradas com a mesma intensidade ? NÃO ! Existem diversas variáveis que influenciam o registro. Uma delas é o grau de tensão positiva ou negativa que as experiências possuem. As mais dolorosas ou prazerosas são registradas com mais intensidade.

    O fenômeno RAM registra com mais intensidade as cadeias de pensamentos que tiverem mais ansiedade, tensão, apreensão ou prazer. Se vivenciarmos uma experiência angustiante diante de um fracasso, poderemos tentar evitar registrar essa experiência, mas não adianta, ela será registrada involuntariamente e, de maneira privilegiada, em virtude da intensa ansiedade que a acompanha."

07/Outubro

"Toda vez que temos uma experiência com alto comprometimento emocional, tais como um elogio, uma ofensa pública, uma derrota, um fracasso, o registro será privilegiado. Por ser privilegiado, tal registro pavimentará as avenidas importantes da nossa maneira de ser e de reagir ao mundo. Por isso, é muito importante que as crianças sejam alegres, tenham amigos, brinquem e tenham um clima saudável para expor o que pensam."

08/Outubro

"As crianças têm de ter infância, têm de registrar uma história de prazer, criatividade e interação. Uma criança alegre gerará um adulto com alta capacidade de prazer de viver. Uma criança rígida gerará um adulto engessado, tímido, inseguro.

    Não é saudável que as crianças cresçam exclusivamente aos pés da TV, dos videogames, da Internet e fazendo todos os tipos de cursos, tais como línguas e computação. A história arquivada na memória de uma criança define os pilares mestres do território da emoção e do desempenho intelectual de um adulto."

09/Outubro

"Felizmente, a emoção não segue a matemática financeira. Às vezes, temos crianças que passaram por tantas dificuldades e sofrimentos na infância, mas, por alguns mecanismos próprios, aprenderam a filtrar os estímulos estressantes do ambiente. Assim apesar do caos da infância, elas se tornaram alegres e seguras.

    Resumindo, temos três situações importantes: Primeiro, o fenômeno RAM registra automaticamente as experiências. Segundo, o fenômeno RAM tem afinidade com as experiências de maior tensão. Terceiro, a retroalimentação, a ser estudada adiante, determinará a dimensão do conflito que uma determinada pessoa vai ter. Aplicando esses princípios psíquicos no uso de drogas, entenderemos a confecção do cárcere interior em que certas pessoas se envolvem sem perceber."

10/Outubro

 VELHOS EM CORPOS JOVENS
 
    "As pessoas dependentes de drogas possuem uma quantidade de experiências emocionais muito maior do que os que não as usam. Essas experiências também são qualitativamente mais tensas do que a média dos mortais. Elas estão saturadas de ansiedade, humor deprimido, desespero, situações de risco de vida e frustrações. O fenômeno RAM vai registrando continuamente essas experiências em zonas privilegiadas de memória, o que as deixa mais disponíveis para serem lidas e utilizadas.

    Qual o resultado disso ? Um dos mais graves é que muitos jovens queimam etapas preciosas da vida. Jovens fisicamente tão novos produzem em poucos anos um filme de terror em seu inconsciente. Em poucos anos, adquirem um estoque de experiências que muitos velhos jamais terão em toda a sua jornada de vida. Isso pode ocorrer também com as pessoas que se submetem a um estresse intenso e contínuo, a uma competição profissional predatória e sem tréguas ou a portadores de determinados transtornos ansiosos e depressivos."

11/Outubro

"Há algum tempo, atendi mais um paciente farmacodependente com uma história dramática. Perguntei-lhe se ele já tinha tido idéias de suicídio. Respondeu-me sem titubear que 'muitas'. Indaguei se havia perdido o prazer de viver. Disse-me, com todas as letras, que tinha perdido o sentido da vida. Mostrei-lhe que o fenômeno da psicoadaptação o havia envelhecido emocionalmente, que muitos velhos, nos asilos, eram mais felizes e tinham mais ânimo de vida que ele. Ele concordou e completou: 'Não suporto ver as pessoas alegres e espontâneas ao meu redor. Sinto raiva e inveja delas, pois não consigo mais ter prazer pela vida.

    Esse paciente usava drogas há quinze anos. Nos últimos anos, cocaína e crack quase que cotidianamente. Sua idade biológica era de vinte e nove anos, mas a emocional talvez ultrapassasse os cem. Todavia, apesar de estar vivendo a pior prisão do mundo, ele podia se libertar, como tantos outros e voltar a ser livre nos seus pensamentos e rejuvenescer a sua capacidade de sentir prazer pela vida. O primeiro passo para alguém conquistar esta liberdade é não se conformar com sua miséria: assumir a sua doença, mas jamais conformar-se com ela. Este princípio vale para todas as doenças psíquicas."

14/Outubro

 O ÚNICO LUGAR ONDE É INADMISSÍVEL ENVELHECER

    "É um fato doloroso, porém verdadeiro: encontrei muitos velhos em corpos jovens. Jovens que perderam a singeleza e o encanto da vida, envelheceram no único lugar em que é inadmissível envelhecer - no território da emoção. É natural que o corpo envelheça, mas é anormal que a emoção se torne velha. Tal envelhecimento gera uma vida entediada, triste, sem sabor e insatisfeita. Por isso, muitos desencadeiam depressão com freqüência.

    O efeito psicotrópico das drogas, seja ele estimulante, tranqüilizante ou alucinatório, associado às mais diversas situações emocionais, no momento do uso, faz com que o fenômeno RAM produza um filme que rouba o brilho de suas vidas. A recuperação de um farmacopedendente, como estudaremos, é muito mais complexa do que afastar-se do uso de drogas. É necessário reaprender a viver, reaprender as linhas básicas da contemplação do belo."

15/Outubro

"Após ter consciência do cárcere da dependência, eles dizem unanimemente: 'Eu jamais queria ter conhecido as drogas'. Outros indagam, indignados: Por quê não consigo ser livre ?' Outros, num lampejo de sonhador, comentam: 'Gostaria de resgatar meu prazer de viver e admirar a beleza das flores'.
    De fato, um dos maiores problemas dos usuários de drogas e que até hoje não é compreendido nos compêndios da Psiquiatria e da Psicologia, é que o filme da memória não para de ser rodado. Cada vez que usam as drogas, algumas cenas são filmadas em zonas privilegiadas da memória. Uma emoção flutuante, insatisfeita e intranqüila vai, pouco a pouco, sendo tecida. Uma mente sem metas e sonhos vai sendo formada, clandestinamente. Uma personalidade insegura, instável e sem coragem para mudar os destinos da vida vai sendo construída.

    Estudaremos que o grande problema, ao contrário do que se pensa na Educação, é que a memória não pode ser apagada, deletada ou eliminada, mas somente reeditada. O maior desafio terapêutico não é apenas fazer o usuário afastar-se temporariamente da substância química, mas conduzi-lo a reeditar o filme de sua história, o que significa, reescrever o script da própria vida."

Voltar à Página Inicial


Portal Nosso São Paulo - www.nossosaopaulo.com.br