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UM PAÍS MAL ADMINISTRADO
Stephen Kanitz

STEPHEN KANITZ, consultor de empresas e conferencista, vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Já realizou mais de 500 palestras nos últimos 10 anos. Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

Artigo publicado em TRENDLETTER Set/02 - UM PAÍS MAL ADMINISTRADO

Um país do tamanho do Brasil, com os recursos naturais e a população que tem, não é exatamente um país com problemas econômicos.
A Inglaterra, uma ilha, esta sim tem enormes problemas econômicos, tanto é que foi o berço da teoria econômica. Milton Friedman, o maior economista dos Estados Unidos, um país bem dotado como o nosso, prega o menor número possível de economistas no governo. Somos sim, um país muito mal administrado.
Não sabemos administrar este Estado paquidérmico, não sabemos administrar nossas dívidas, não sabemos administrar nossa previdência, nosso judiciário e nem a nossa segurança. Nossos governantes e ministros não são formados em administração, nem fizeram aqueles cursos de MBAs caça-níqueis que proliferam por aí.
A maioria dos nossos ministros é de economistas que nunca trabalharam numa das 500 maiores empresas do país, nem como Presidente , nem como Diretor, muito menos como gerente de almoxarifado. Fernando Henrique Cardoso teve doze economistas “administrando” nossa Educação, Saúde, Trabalho, Planejamento, Finanças e até o Banco Central. Professores que antes administravam sessenta alunos e, de um momento para outro, administram mais do que 5.000 funcionários, sem formação em administração, recursos humanos, avaliação de desempenho, muito menos administração financeira. Pior ainda, embora o Brasil forme administradores públicos, estes são os primeiros a serem preteridos para os cargos mais importantes da administração pública. Os Estados Unidos são a maior potência econômica não pela qualidade de seus economistas, mas pela qualidade de seus administradores. As frases Ministro e “eu administro”, Poder Executivo e “procurase um executivo”, administração Bush e não governo Bush , não são semelhantes por acaso.
Quarenta por cento das colunas americanas são de gurus de administração como Drucker, Peters, Porter, que disseminam diariamente o mantra da eficiência, competência e boa administração. No Brasil, noventa por cento das colunas são de economistas que escrevem justificando seus erros no governo, e como o governo deveria “administrar” o rombo que deixaram. O que mais me espanta é que em pleno século XXI eu sou o único administrador que tem uma coluna fixa na grande imprensa brasileira, e não por muito tempo.
O discurso hegemônico dos economistas domina nossa imprensa, nossa agenda de discussão, nossa agenda de pesquisa e nossos partidos políticos. Todo jornal brasileiro tem seu Caderno de Economia, onde ouvem exclusivamente economistas com suas desastrosas soluções para o Brasil como se nós engenheiros, consultores, contadores e administradores fôssemos completos idiotas. Foi com tristeza e certa mágoa que li no mês passado a própria Revista Veja entrevistar seis economistas sobre uma eventual “administração” petista.

Desisto, não consigo influir nem lá. No rol dos alunos famosos da Harvard Business School há dezenas de Ministros que serviram o governo. George W. Bush foi meu calouro em Harvard, onde ele aprendeu a defender a indústria americana como ninguém, algo que Fernando Henrique Cardoso nunca aprendeu no seu curso de Sociologia. O problema de Bush é que Harvard não nos ensina a fazer guerra, matéria em que Sadam e Bin Laden são professores. Nunca tivemos no Brasil um presidente formado em administração, nem que tenha sido presidente ou sequer diretor de uma das 500 maiores empresas privadas, antes de presidir todo um país.
Falaram mal do Lula, mas parece que ele será o primeiro presidente a ter pelo menos trabalhado numa das 500 maiores empresas privadas do país, embora como torneiro, mas já será um enorme avanço com relação a Fernando Henrique Cardoso.
Infelizmente, ele promete administrar este país com um grande conselho de economistas. Portanto, o discurso hegemônico e único que já dura trinta e oito anos continuará o mesmo. Aos milhares de engenheiros, contadores, administradores, auditores, orçamentistas e organizadores lamento dizer que não tenho o suficiente apoio, nem estômago, para continuar a apontar e criticar esta infindável ditadura dos economistas. Para mim, basta! Para alegria geral dos que “administram” sozinhos este país.

 

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