DISCURSO APÓS
REELEITO
Luiz
Inácio Lula da Silva - 30/Outubro/2006
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inicia o primeiro
discurso, após a vitória, prometendo fazer um mandato "muito
melhor" do que o primeiro. Veja aqui a íntegra do discurso,
que manteremos publicado neste espaço, de forma documental, para
consulta de todos e para relembrar as 'promessas'... assim como o fizemos
com aqueles de há tanto tempo... daquele tempo onde o PT ainda
significava ESPERANÇA... :
"Meus amigos e minhas amigas aqui representados pelos companheiros
dirigentes dos partidos que apoiaram a nossa campanha, nossos queridos
companheiros representantes dos trabalhadores aqui representados pelos
dirigentes sindicais, meus companheiros ministros, meus companheiros e
companheiras coordenadores da nossa campanha. Eu não estou vendo
aqui o governador Marcelo Miranda, do Tocantins. Ah, está aqui
do meu lado aqui nosso querido governador Marcelo Miranda, do Estado do
Tocantins; nosso querido companheiro Jacques Wagner, governador eleito
da Bahia.
Queria dizer para vocês que eu penso que
o Brasil está vivendo um momento mágico, de consolidação
do processo democrático brasileiro. Acho que esse momento
nós devemos ao povo brasileiro, sobretudo, ao povo que foi incluído
no patamar daqueles que já tinham conquistado a cidadania. Acho
que a inclusão social de milhões e milhões de brasileiros,
o acerto das coisas que o governo fez e os erros que também o governo
fez permitiram que nós pudéssemos chegar num processo eleitoral
mais amadurecido, com mais consciência e consistência das
dificuldades que o Brasil enfrenta para dar o salto
de qualidade que o Brasil precisa dar.
Eu sou um homem convencido de que a lição que a democracia
brasileira dá neste momento ao mundo, a começar da qualidade
do processo de votação e apuração do nosso
país. Em que países mais ricos do que o Brasil, mais poderosos
do que o Brasil do ponto de vista econômico e tecnológico
não têm. O Brasil fazer uma eleição que termina
às 17 horas e às 20 horas a gente já saber o resultado
de quase todo o território nacional, é muita competência
tecnológica e muita competência inclusive
da Justiça eleitoral brasileira.
Eu sou grato nesse momento às pessoas que confiaram, às
pessoas que acreditaram. Sou grato ao povo deste país. Ao povo
brasileiro que em vários momentos foi instado a ter dúvida
contra o governo. E o povo sabia fazer a diferença do que era verdade,
o que não era verdade, o que estava acontecendo, o que não
estava acontecendo no Brasil. E, sobretudo, o povo sentiu que ali tinha
melhorado. E contra isso não há adversário, porque
o povo sentiu na mesa, sentiu no prato e sentiu no bolso a melhora de
sua vida. O mais importante ainda é que o povo sentiu isso no seu
cotidiano. Ele sentiu isso na vida dos seus amigos, na vida das suas famílias.
Eu tenho consciência de que nós demos
apenas o primeiro passo. Eu, durante a campanha, citava muito exemplos
de que nós tínhamos construído um alicerce. A bases
estão usadas para que o Brasil dê um salto de qualidade extraordinário
nesse próximo mandato. Primeiro, porque todos nós aqui temos
mais experiência, aprendemos muito. Segundo, porque nós conseguimos
resolver o problema da macroeconomia brasileira, da instabilidade econômica.
Conseguimos consolidar nossas relações internacionais,
conseguimos fazer ver que o Mercosul é uma condição
importante para o desenvolvimento dos países que dele participam.
Conseguimos consolidar comunidades sul-americanas de nações,
conseguimos consolidar uma política internacional onde não
temos adversários, mas construímos um leque de amizades
em que o Brasil hoje transita com muita leveza em todos os continentes.
E é ouvido porque nós aprendemos a
respeitar e quando a gente respeita a gente pode exigir respeito.
E eu penso que tudo isso, me dá segurança de dizer a vocês
que vamos fazer um segundo mandato muito melhor do que fizemos no primeiro.
Muito melhor.
Não tenho dúvida de que o Brasil
vai crescer mais. Não tenho dúvida de que vai aumentar a
distribuição de renda neste país. Não
tenho dúvida de que vai aumentar a consolidação da
política externa brasileira. Não tenho
dúvida de que vai aumentar o combate a corrupção
deste país. Não tenho dúvida de que vai continuar
o fortalecimento das instituições no país. E não
tenho dúvida, sobretudo, de que o Brasil irá atingir um
padrão de desenvolvimento que será colocado entre os países
desenvolvidos no mundo.
Nós cansamos de ser uma potência emergente, nós queremos
crescer. As bases para um crescimento sustentado da economia estão
dadas e agora a gente tem que trabalhar. Todo mundo. Todo povo brasileiro
votou exatamente porque tem esperança de que as coisas podem andar
ainda mais rápido e muito melhor do que andaram no primeiro mandato.
A eleição, como vocês viram, é sempre um processo
complicado. Mas ao sairmos dessa eleição e ao receber o
telefonema do meu adversário, o candidato Geraldo Alckmin, eu saio
com a convicção muito mais forte do que entrei na campanha
de que o Brasil não pode temer, em nenhum
momento, o fortalecimento da sua democracia.
As instituições estão sólidas, o povo brasileiro
sabe reagir nos momentos adequados, com as atitudes adequadas. Os partidos
políticos precisam se fortalecer e para isso nós vamos discutir,
logo no começo do mandato, a reforma política
de que o Brasil tanto necessita. E é importante que ela saia.
E que ela saia por consenso de todos os partidos políticos. Porque
o processo eleitoral mostrou também que quanto mais fortes forem
as instituições políticas mais forte e mais consolidado
será o processo democrático brasileiro.
De forma que eu estou feliz. Estou feliz pela participação
da sociedade nesse processo eleitoral. Estou feliz porque a sociedade
conseguiu compreender o momento histórico que nós estamos
vivendo no país. Estou feliz pela eleição dos governadores
em todos os Estados. Acho que nós poderemos construir algo muito
mais forte do que nós tentamos construir em março e abril
de 2003, quando nos reunimos com os governadores para fazer a reforma
da Previdência e a reforma tributária.
Acho que os governadores eleitos têm o perfil de quem quer trabalhar
no sentido de fazer com que haja uma compreensão de que o
crescimento do Brasil precisa beneficiar o crescimento dos Estados.
Continuaremos a governar o Brasil para todos, mas continuaremos a dar
mais atenção aos mais necessitados. Os pobres terão
preferência no nosso governo.
As regiões mais empobrecidas terão no nosso governo uma
atenção ainda maior. Porque nós
queremos tornar o Brasil mais equânime. Queremos tornar o Brasil
dos seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados mais justo
do ponto de vista geopolítico, mas também do ponto de vista
econômico e social. Portanto nós temos uma grande estrada
a ser construída. As bases estão consolidadas, os projetos
já estão consolidados. E, portanto, nós não
temos tempo a perder. É trabalhar, trabalhar e trabalhar porque
é isso que o povo brasileiro espera e é por isso que o povo
brasileiro votou.
É por isso que hoje, na rua, todo mundo fala: deixa o homem trabalhar,
porque o Brasil precisa de trabalho. E eu estou muito confiante. Como
jamais estive na minha vida. Estou confiante no Brasil, estou confiante
na compreensão dos partidos que perderam as eleições
no estado e para o governo federal, a eleição acabou.
Agora não tem mais adversário.O adversário
agora são as injustiças sociais que nós temos no
Brasil e que precisamos combater. O adversário agora é
a gente, todo mundo, se juntar para fazer o Brasil crescer. Fortalecer
o Brasil não apenas internamente, mas fortalecer o Brasil no mundo.
Nós queremos continuar fortalecendo o mercado interno, fortalecendo
as exportações. E eu penso que contra esses argumentos nós
não temos adversário.
Eu não tenho dúvida nenhuma que poderemos contar com a
compreensão dos partidos que fizeram oposição a nós,
e quero conversar com todos, sem distinção. Não haverá
um único partido nesse País que eu não chame para
conversar, para dizer o seguinte: agora o problema
do Brasil é de todos nós. Eu tenho a Presidência,
mas todos os brasileiros e brasileiras têm a responsabilidade de
dar a sua contribuição para que o Brasil não perca
mais uma oportunidade.
Eu disse a vocês que nós manteremos uma política
fiscal dura. Porque eu aprendi não na faculdade de economia, como
os meus companheiros aprenderam. Eu aprendi na vida
cotidiana que a gente não pode gastar mais do que a gente ganha
porque senão um dia a gente vai se endividar de tal ordem que a
gente não pode pagar a dívida que contraiu.
Mas ao mesmo tempo que eu tenho a convicção de que a solução
para os problemas brasileiros não é mais fazer o povo sofrer
com ajustes pesados, que terminam caindo em cima do povo, mas que a
solução está no crescimento da economia, no crescimento
da distribuição de renda e nós provamos isso
no primeiro mandato, quando nós dizíamos há muito
tempo atrás que era preciso primeiro o Brasil crescer para distribuir
e nós dizíamos: é preciso distribuir para o Brasil
crescer, nós provamos que com o pouco de distribuição
de renda que nós fizemos seja a política de transferência
de renda através do Bolsa-Família, através do crédito
consignado, através do salário mínimo.
Através das conquistas que os trabalhadores brasileiros tiveram
fazendo acordos por reajuste maior do que a inflação, coisa
que durante muitos anos nós não fazíamos, nós
provamos que quando o povo tem um pouco de dinheiro
ele começa a comprar, a loja começa a vender, a loja começa
a comprar da fábrica, a fábrica começa a produzir,
começa a gerar empregos, começa a gerar distribuição
de renda, e é esse o País que nós queremos.
E é o País que eu tenho certeza que depois de quatro anos
nós daremos ao Brasil aquilo que o Brasil merece e que durante
tantas vezes o Brasil quase chegou lá, mas por interesses eminentemente
políticos momentâneos, o Brasil jogou fora essa oportunidade.
Eu não jogarei. Estão
aqui meus companheiros sindicalistas. Eu quero dizer para vocês:
reivindiquem tudo que vocês precisarem reivindicar. Nós daremos
apenas aquilo que a responsabilidade permite que a gente dê. Reivindiquem.
Porque o mais importante - esses meus amigos sabem disso, do movimento
social, do movimento sindical, dos empresários - eles sabem perfeitamente
bem que a coisa mais sagrada ao terminar o mandato de um presidente da
República como legado é a relação que ele
conseguiu estabelecer com a sociedade, consolidando a democracia, consolidando
o papel do Estado e consolidando, sobretudo, o papel da participação
da sociedade.
Isso nós fizemos com muita competência e vamos continuar
fazendo porque afinal de contas o Brasil não
é meu. Eu é que sou brasileiro e, portanto, o Brasil é
de todos. Por isso eu estou com essa frase aqui na minha camiseta
para vocês lerem. A vitória não é do Lula,
não é do PT, não é do PC do B, não
é do PTB, PRTB. Não é de nenhum partido político.
A vitória é eminentemente da sabedoria do povo brasileiro.
Eu disse a vocês que eu ia mudar meu comportamento com a imprensa
no segundo mandato. Vamos abrir para umas perguntas, para vocês
não se sentirem. Abre aí para umas quatro ou cinco perguntas
porque isso aqui não é ainda a coletiva que eu pretendo
dar. Isso aqui é apenas uma fala inicial depois do resultado eleitoral.
Quero dizer para vocês mais uma coisa ainda. Quero, de público,
daqui agradecer a participação jovial do meu vice-presidente
da República. O Zé Alencar durante o processo eleitoral
fez uma cirurgia. Os médicos não queriam que ele fizesse
carreata e por onde andava o Zé Alencar já tinha participado
como se fosse um menino de 18 anos. Eu agradeço a Deus de ter encontrado
um parceiro de chapa como o companheiro Zé Alencar que além
de ser um grande empresário ele é, sobretudo um grande brasileiro
e um grande patriota. Ele não veio aqui porque eu pedi para ele
ficar em Minas Gerais, afinal de contas Minas Gerais tem a sua importância,
não é? Vocês viram o resultado eleitoral em Minas
Gerais. Então eu quero aproveitar a imprensa para agradecer ao
Zé Alencar. Já agradeci por telefone, mas quero agradecer
também pela imprensa.
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