07/Janeiro/2004:
"UM
QUARTO DE HORA"
"Quando tiveres um quarto de hora à
disposição, reflete nos benefícios que podes
espalhar.
Recorda o diálogo afetivo com que refaças
o bom-ânimo de algum familiar, dentro da própria
casa; das palavras de paz e amor que o amigo enfermo espera de
tua presença; de auxiliar em alguma tarefa que te aguarde
o esforço para a limpeza ou o reconforto do próprio
lar; da conversação edificante com uma criança
desprotegida que te conduzirá para frente as sugestões
de boa vontade; de estender algum adubo a essa ou aquela planta
que se te faz útil; e do encontro amistoso, em que a tua
opinião generosa consiga favorecer a solução
do problema de alguém.
Quinze minutos, sem compromisso, são quinze
opções na construção do bem.
Não nos esqueçamos de que a floresta
se levantou de sementes quase invisíveis, de que o rio
se forma das fontes pequeninas e de que a luz do Céu, em
nós mesmos, começa de pequeninos raios de amor a
se nos irradiarem do coração."
( Meimei - Francisco
Cândido Xavier - 1910/2002)
08/Janeiro/2004:
"A
CURA ESPIRITUAL"
"Comece orando.
A prece é luz na sombra em que a doença se instala.
Semeia alegria.
A esperança é alegria no coração.
Fuja da impaciência.
Toda a irritação é desastre magnético
de conseqüências imprevisíveis.
Guarde confiança.
A dúvida deita raios de morte.
Não critique.
A censura é choque nos agentes da afinidade.
Conserve brandura.
A palavra agressiva prende o trabalho na estaca zero.
Não se escandalize.
O corpo de quem sofre é objeto sagrado.
Ajude espontaneamente para o bem.
Simpatia é cooperação.
Não cultive os desafetos.
Aversão é calamidade vibratória.
Interprete o doente qual se fosse você mesmo.
Toda cura espiritual lança raízes sobre a força
do amor."
( André Luiz
- Chico Xavier - 1910/2002)
09/Janeiro/2004:
"A
EDUCAÇÃO PELA PEDRA"
"Uma educação pela pedra: por
lições;
para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma."
( João Cabral de
Melo Neto - 1920/1999)
12/Janeiro/2004:
"AO
ESPELHO"
"Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.
Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.
Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.
Volta portanto a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh Braga envelhecido, envilecido."
( Rubem Braga - 1913/1990)
13/Janeiro/2004:
"SE
MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR"
"Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua !!"
( Federico Garcia Lorca
- Soc. Poetas Mortos - 1898/1936 )
14/Janeiro/2004:
"O
AMOR É QUE É ESSENCIAL"
"O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente."
( Fernando Pessoa - Soc.
Poetas Mortos - 1888/1935 )
15/Janeiro/2004:
"SER
POETA"
"Ser poeta é ser mais alto, é
ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim ...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente ...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"
( Florbela Espanca - Soc.
Poetas Mortos - 1894/1930 )
16/Janeiro/2004:
"GESTAÇÃO"
"Gestamos as palavras
crescemos
nos gestos podados
na relva umedecida
de nossa pele açoitada.
Silenciamos nossos sentimentos
sob o choque das palavras
marcando nossos ombros estreitos.
Crescemos
assim, infestados
de traças, trapaças, mazelas.
Gestamos dentro de nós
a força única da palavra
que embora não dita
há de vigorar."
( Francis de Oliveira
- Soc. Poetas Mortos - 1961/1991 )
19/Janeiro/2004:
"ROTINEIRO"
"Ter que mastigar
o segredo encardido
que o sagrado não comporta.
Ter que expor ao cosmo
a pele trabalhada
e acomodar entre os ossos carcomidos
o abominável.
Ter que cumprir o perpendicular
na estrada sem meta
quando os joelhos suplicam
o macio da terra."
( Gabriel Archanjo de
Mendonça - Soc. Poetas Mortos - 1928/1971 )
20/Janeiro/2004:
"AS
CRIANÇAS APRENDEM AQUILO COM QUE CONVIVEM"
"Se uma criança convive:
1- Com a crítica, aprende a condenar.
2- Com a hostilidade, aprende a ferir.
3- Com a zombaria, aprende a ser tímida.
4- Com a vergonha, aprende a se sentir culpada.
Mas, se a criança convive:
5- Com a tolerância, aprende a ser paciente.
6- Com o encorajamento, aprende a ser confiante.
7- Com o louvor, aprende a apreciação.
8- Com a imparcialidade, aprende a ser justa.
9- Com a segurança, aprende a ter fé.
10- Com a aprovação, aprende a gostar de si própria.
11- Com a aceitação e a amizade, aprende a encontrar
o amor."
( Geziel Andrade - Amor
e Vida em Família - EME )
21/Janeiro/2004:
"BRAVA
GENTE"
"Mulheres,
sois perigosas
guerrilheiras desarmadas.
De noite, agitais o sono-
pesadelo dos tiranos,
de dia, agitais o lenço
de paz pelos torturados.
De onde tirais a força
para lutar, com palavras
e fé, contra as ditaduras?
Por certo de vosso ventre,
onde se gera a criança
livre que o mundo terá.
Quando não houver exílios
nem prisioneiros de idéias,
algozes espancadores,
espiões da violência,
exploradores de homens
Que fareis, bravas mulheres?
Descansareis da guerrilha
pela Anistia no mundo,
embalando em vossos braços
os Filhos da Liberdade."
( Glênio Peres -
Soc. Poetas Mortos )
22/Janeiro/2004:
"ESTROFES
PARA MÚSICA"
"Não há filha da Beleza
Com mágica como a tua
E, tal música nas águas,
Tua voz em mim atua:
Quando, com seu som vem motivar
O encantado oceano a vacilar,
As ondas pairam calmar e brilhando
E os ventos em sossego divagando:
E a lua à meia-noite elaborando
Seu luzente colar sobre a descida;
O seio docemente palpitando
Como criança adormecida:
Assim o espírito inclinado a ti
A fim de ouvir e adorar a ti
Com plena mas suave comoção,
Como o inflar do oceano do Verão."
( Lord Byron - 1788/1824
)
23/Janeiro/2004:
"POEMAS
DA AMIGA"
"A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.
Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade
Saudade ...
Os olhos no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade.
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus."
( Mário de Andrade
- 1893/1945 )
26/Janeiro/2004:
"ESPERANÇA"
"Só a leve esperança em toda
a vida
disfarça a pena de viver, mais nada;
nem é mais a existência resumida
que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada
e que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos
árvore milagrosa que sonhamos
toda arriada de dourados pomos
existe sim; mas nós não a encontramos,
porque está sempre apenas onde a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos."
( Vicente de Carvalho -
poeta santista - 1866/1924 )
27/Janeiro/2004:
"PRÓLOGO:
ALMAS EM BUSCA DA REDENÇÃO"
"(...) Erros, nesta Terra, todos nós
os praticamos. No entanto, aqueles que aqui se encontram vivendo
as ilusões terrenas, esquecidos da eternidade do Espírito
e desejando aproveitar o máximo das oportunidades que o momento
lhes propicia, mesmo derrubando e ferindo os que encontram pelos
caminhos, não sabem os compromissos que assumem, se persistirem
nessa caminhada.
Mas, abençoados são quando se esforçam
e aceitam um novo rumo que lhes é mostrado para tirá-los
do mal e começam a trabalhar a própria redenção.
Abençoados são aqueles que, revoltados e intransigentes
no perdão dos erros alheios, também são tocados
no coração e estendem-lhes a mão, retirando-os
da senda tortuosa das ilusões passageiras. Abençoados
são todos os que procuram a própria elevação,
auxiliando a redenção das almas que foram determinadas
por Deus para caminharem em sua direção. (...)"
( Eça de Queirós
/ Wanda Canutti - 'Biografia'
- 1932/2004 )
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28/Janeiro/2004:
"É
TÃO BONITO"
"É tão bonito
quando a gente vai à vida
pelos caminhos que batem
mais forte o coração"
( Gonzaguinha - Soc. Poetas
Mortos - 1945/1991 )
29/Janeiro/2004:
"FLOR
DO ASFALTO"
"Flor do asfalto, encantada flor de seda,
sugestão de um crepúsculo de outono,
de uma folha que cai, tonta de sono,
riscando a solidão de uma alameda...
Trazes nos olhos a melancolia
das longas perspectivas paralelas,
das avenidas outonais, daquelas
ruas cheias de folhas amarelas
sob um silêncio de tapeçaria...
Em tua voz nervosa tumultua
essa voz de folhagens desbotadas,
quando choram ao longo das calçadas,
simétricas, iguais e abandonadas,
as árvores tristíssimas da rua!
Flor da cidade, em teu perfume existe
Qualquer coisa que lembra folhas mortas,
sombras de pôr de sol, árvores tortas,
pela rua calada em que recortas
tua silhueta extravagante e triste...
Flor de volúpia, flor de mocidade,
teu vulto, penetrante como um gume,
passa e, passando, como que resume
no olhar, na voz, no gesto e no perfume,
a vida singular desta cidade!"
( Guilherme de Almeida
- Soc. Poetas Mortos - 1890/1969 )
30/Janeiro/2004:
"CHEGA
DE SAUDADE"
"Vai minha tristeza e diz à ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza, é
só tristeza
E a melancolia que não sai de mim, não sai de mim,
não sai.
Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca.
Dentro dos meus braços os abraços
hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é prá acabar com esse negócio de viver
longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim.
( Tom Jobim / Vinicius
de Moraes - MPBNET )