" MENSAGEM DO DIA "
MENSAGENS e POESIAS

FEVEREIRO de 2006


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01/Fevereiro/2006:

“ O LIVRO E A AMÉRICA ”
- Espumas Flutuantes - Ao Grêmio Literário -

“ Ao Grêmio Literário
Talhado para as grandezas,
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado d’outros esboços
Disse um dia Jeová:
"Vai, Colombo, abre a cortina
"Da minha eterna oficina...
"Tira a América de lá."

Molhado inda do dilúvio,
Qual Tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um — traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:
"Tudo marcha!... Ó grande Deus!
"As cataratas — pra terra,
"As estrelas — para os céus.
"Lá, do pólo sobre as plagas,
"O seu rebanho de vagas
"Vai o mar apascentar...
"Eu quero marchar com os ventos,
"Com os mundos... co’os firmamentos!!!"
E Deus responde — "Marchar!"

"Marchar!... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteons?...
Marchar co’a espada de Roma
— Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo...
— Com as garras nas mãos do mundo,
— Com os dentes no coração?...

"Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
"No pugilato tremendo
"Quem sempre vence é o porvir!"

Filhos do sec’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Éolo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou!...

Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O séc’lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto —
As almas buscam beber...
Oh! bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É gérmen — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.

Vós, que o templo das idéias
Largo — abris às multidões,
Pra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboc’los nus,
Fazei desse "rei dos ventos"
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz!...

Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goëthe moribundo
Brada "Luz!" o Novo Mundo
Num brado de Briareu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!... ”

( Antônio de Castro Alves - 'Biografia' - 1847/1871 )

02/Fevereiro/2006:

“ BRAÇOS ”
- Broquéis - 1893 -

“ Braços nervosos, brancas opulências,
Brumais brancuras, fulgidas brancuras,
Alvuras castas, virginais alvuras,
Lactescências das raras lactescências.

As fascinantes, mórbidas dormências
Dos teus abraços de letais flexuras,
Produzem sensações de agres torturas,
Dos desejos as mornas florescências.

Braços nervosos, tentadoras serpes
Que prendem, tetanizam como os herpes,
Dos delírios na trêmula coorte...

Pompa de carnes tépidas e flóreas,
Braços de estranhas correções marmóreas,
Abertos para o Amor e para a Morte! ”

( Cruz e Sousa - 'Biografia' - 1862/1898 )

03/Fevereiro/2006:

“ A IDÉIA ”
- Eu - 1912 -

“ De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo* da língua paralítica! ”

( Augusto dos Anjos - 'Biografia' - 1884/1914 )

06/Fevereiro/2006:

“ DISCURSO ”

“ E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim? ”

( Cecília Meireles - 'Biografia' - 1901/1964 )

07/Fevereiro/2006:

“ UM CONTO DE DUAS CIDADES”
- The período: A Tale of Two Cities - 1859 -

“ Foi o melhor dos tempos,
foi o pior dos tempos,
foi a idade da sabedoria,
foi a idade da tolice,
foi a época da fé,
foi a época da incredulidade,
foi a estação da luz,
foi a estação das trevas,
foi a primavera da esperança,
foi o inverno do desespero,
tínhamos tudo diante de nós,
e nada tínhamos diante de nós.
caminhávamos todos rumo ao paraíso,
e caminhávamos direto para o outro lado -
em suma, esse tempo foi muito diferente do atual,
com suas autoridades ruidosas insistindo em ser recebidas,
para o bem ou para o mal,
usando somente o grau de comparação superlativo. (...) ”
- tradução: Eng. Celio Franco

( Charles Dickens - 'Biografia' - 1812/1870 )

08/Fevereiro/2006:

“ O MEU IMPOSSÍVEL ”
- Reliquiae - Charneca em Flor - 1931 -

“Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...”

( Florbela Espanca - 'Biografia' - 1894/1930 )

09/Fevereiro/2006:

“ INOCÊNCIA ”
- 2003 -

“ No escuro da inocência
Descoberto pela luz da ciência.
Não deve subserviência
Essa Humanidade em carência.

Distante dos olhos
Perto dos sentidos
Instintos desmentidos
Pelos atos desmedidos.

Grande vulcão
Em eterna extinção
Tomado pela mão
Às rédeas da emoção.

Páginas viradas
De cartas marcadas.
Inocências mascaradas,
Enfim carnais formas encarnadas. ”

( Cris Passinato - 'Biografia' - 1973/**** )

10/Fevereiro/2006:

“ REDIVIVO ”
- Parnaso de Além-Túmulo - 1932 -

“ Sou o cantor das místicas baladas
Que, em volutas de flores e de incenso,
Achou, no Espaço luminoso e imenso,
O perfume das hóstias consagradas.

Almas que andais gemendo nas estradas
Da amargura e da dor, eu vos pertenço,
Atravessai o nevoeiro denso
Em que viveis no mundo, amortalhadas.

Almas tristes de freiras e sorores,
Sobre quem a saudade despetala
Os seus lírios de pálidos fulgores;

Eu ressurjo nos místicos prazeres,
De vos cantar, na sombra onde se exala
Um perfume de altar e misereres... ”

( Alphonsus de Guimaraens / Chico Xavier - 'Biografia' - 1870/1921 )

13/Fevereiro/2006:

“ INSTANTES ”
- texto-testamento -

“ Se eu pudesse viver novamente minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido,
na verdade bem poucas coisas levaria a serio.
Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria problemas reais e menos
problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e produtivamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter
somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida,
só de momentos, não os percas agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva
e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim, até o final do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo. ”

( Jorge Luiz Borges - 'Biografia' - 1899/1986 )

14/Fevereiro/2006:

“ A FLOR E A NÁUSEA ”
- Antologia Poética - 1962 -

“ Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolia, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo ?
Posso, sem armas, revoltar-me ?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los ?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua !
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
é feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. ”

( Carlos Drummond de Andrade - 'Biografia' - 1902/1987 )

15/Fevereiro/2006:

“ ABISMO EM TRÊS DIAS ”
- No primeiro dia: a Insônia -

“ Não me culpe,
nunca tive culpa da brisa.

Sim,
para alcançar o vale,
há que saltar sobre o abismo.

Era uma noite leve,
o convite ao chope,
quando os olhos,
inesperados
se agarram
sob a fagulha,
que verd’azuis
eram os olhos:

— Seu nome?

Sim,
sou,
sou eu que já te procurava.

A mim, a ti.

Uma despedida rapidíssima,
e o telefone,
sob um número,
para uma noite impossível
assentar
quaisquer idéias
que voam latejadas.

Por enquanto,
absoluta incerteza do presente:

amanheça.

( Francisco José Soares Feitosa - 'Biografia' - 1944/**** )

16/Fevereiro/2006:

“ ABISMO EM TRÊS DIAS ”
- No segundo dia: o re-encontro -

“ Encontram-se agora,
aqui,
em nós dois
alma, voz, gesto,
como se
de muitos fossem os tempos
para além da fronteira de todo o Tempo.

Desde,
ali
encontram-se,
encontraram-se,
pois a certeza que nos cerca:
somos.

Impossível dormir,
nesta segunda noite,
dança-me à mente o bailado dos fantasmas.
Por que não antes?

Das incertezas,
porém,
que permanecem:

Ela,
que também as sorveu:
dia seguinte,
nos soubemos cada qual, de si,
as incertezas.

Sim,
sou.
Pelos tempos,
o tempo todo.

Mas, agora - boa noite -
a pracinha, as luzes, o calçadão,
é tudo incerto.

Haverá um amanhã?

Irrefutáveis porém
a insônia,
a fagulha, o incêndio. ”

( Francisco José Soares Feitosa - 'Biografia' - 1944/**** )

17/Fevereiro/2006:

“ ABISMO EM TRÊS DIAS ”
- No terceiro dia: até -

“ Mudem-se os trajetos,
rasguem-se os folhetos,
devolvam-se os itinerários da viagem
que não deve ser feita
hoje de noite.

Nenhuma viagem, que não a do coração,
deve ser feita,
jamais
à noite.

Vá,
deixe para ir amanhã de manhã, porém.

Pertença-nos,
com as certezas e a penugem,
a noite
quando os gatos,
à beira dos incêndios,
nunca são pardos.

É assim mesmo?

De onde nos saem enlevos tantos ?
Manhã, que outra vez insone:

Vá,
aliás, fique,
fique o tempo;
eu também vou
e fico.

Um rastro nos céus,
rapidíssimo:

1. silêncio de uma infinita paz interior;

2. estrépito de uma brutal inquietude interior:
rasga-me o peito a chama murmurada.

As cinzas,
onde as cinzas
para me aspergirem a fronte?

Onde as garras

a me rasgarem as vestes?

Até.
Até.
Até.

( Francisco José Soares Feitosa - 'Biografia' - 1944/**** )

20/Fevereiro/2006:

“ ORAÇÃO DO ESCRITOR BRAGANTINO ”
- ASES - Oração do ASEANO-

“ Senhor, faze com que através desta oração, preparemo-nos espiritual, física e mentalmente para as atividades deste evento e para os contatos de hoje com todas as pessoas, principalmente com nossos colegas, confrades e amigos da ASES. Conscientiza-nos, Senhor, de que nosso modo de pensar peculiar, com sua ideologia própria e única, é útil, de boa qualidade, importante, benéfico, desejado. Sabemos que é muito importante para todos nós - confrades de ASES -, podermos expressar-nos livre e honestamente. Nisso, principalmente, reside o poder de criação e a eficácia da comunicação para cada um de nós.

Irradiamos paz, amor, alegria, saúde e prosperidade a todas as pessoas a quem nos dirigirmos e contatarmos, hoje e em todos os dias de nossas vidas. Afinal, somos o que somos e existimos como somos porque também os outros existem e são. É impossível ser e existir solitariamente...

Senhor, faça com que sintamo-nos sempre à vontade, serenos, congruentes, abertos, porque sabemos que todos somos e fazemos uma unidade no universo e somos acolhidos com a mesma simpatia, respeito e consideração que irradiamos a nossos semelhantes.

Alumia-nos, Senhor, a todos para que sejamos sempre corretos em nossos procedimentos, atitudes e comportamentos, retos no que pensamos, escrevemos e falamos, e que sua verdade seja nossa inspiração principal. Que sejais sempre, para nós, brilhante como o sol que ilumina alguma parte ainda escura, e que procuremos reconhecer, a cada momento, que o ser humano que divide seu ideal e parte de sua vida conosco, é jóia preciosa e rara. E que, portanto, velamos por ela e dela cuidamos, zelamos como a um tesouro. E que coloquemos em prática o ensinamento do Mestre dos Mestres, que diz:
"Faze aos outros o que deseja que os outros façam a ti".

Assim, com Vossa benção, sentimo-nos agora, fortes, energizados positivamente e alegres como quem vai a uma festa de confraternização. Assim é e assim será sempre pelo poder de Deus que atua com sua gratuidade em cada um de nós a seu modo. "Amém."

( João Luiz Servelhere - 'Biografia' - 1952/**** )

21/Fevereiro/2006:

“ ZÉ MUNHANHA ”
- ASES - Bragança Paulista -

“ Lá vai Munhanha
Quem é esse estranho
José da minh'infância?
Retrato tão vivo
Do rico no pobre
De amor presente, de dor ausente

Mistura sua fé com a cor de sua gente...

Em meus sonhos de amor
José não tem idade
É só a saudade
Da infância passada:
Apanhar? Ah! Se apanhou...
Falar? Calou...
Na travessura assumida,
A dura expiação.
José, que era forte,
Aceitou o castigo: brincou comigo.

Será que ele não tem tempo
Pra ser um José diferente?

Sua bandeira é amarela
O seu sonho é de esperança...

Desse meu José d'infância
Me vêm tantas lembranças
Nos sonhos da noite ou nos sonhos do dia...
Vivendo em alforria,
José não sabia
Rezar o catecismo:
Não sabia aprender,
Protestar,
Teimar...
Só sabia esperar,
Sorrir,
Amar.

JOSÉ, SUA BANDEIRA, SE É DE SONHO,
É DE ESPERANÇA SUA SINA! ”

( Ana Maria Rosatto Servelhere - 'Biografia' - 1952/**** )

22/Fevereiro/2006:

“ COMO A LUA ”
- ASES - Bragança Paulista -

“ Como a lua
parto
em quartos...
Lua cheia
de amargura,
me desfaço
em noite escura,
quando minguam
seus abraços.
Me refaço
em cada ida.
Renasço
a cada
partida...

Crescendo
(quarto - esperança)
me sufoco de lembranças...
Mas, tal qual a lua nova
- elipse de prata -
s o l t a
no avesso do universo,
minha alma se renova
e resgata
(com seu brilho)
os meus sonhos submersos. ”

( Henriette Effenberger - 'Biografia' - 1952/**** )

23/Fevereiro/2006:

“ NOTURNO ”
- ASES - Bragança Paulista -

“ Anoitece...
E a noite tece
teias na veste negra
que a terra reveste.

Tece a noite
a calmaria aparente,
a umectante aragem
e mirabolantes sonhos.

E para ocultar os açoites,
mascarando a paisagem nua,
tudo se desnuda na noite,
sob o olhar baço da lua.

Musicando passos soturnos
de mendigos e boêmios,
pios, arrepios e acenos obscenos
invadem o espaço noturno,
pisoteando o sereno...

Sussurros, gritos e latidos,
uivos, espasmos e gemidos
explodem em prazeres consentidos,
porque a orgia da dama-noite acontece,
no banquete mundano do universo submerso
em silêncios profundos e profanos,
quando anoitece...

E a tessitura cresce,
lançando a sorte,
engendrando fugas tardias,
cavando túneis medonhos,
quebrando grades,
enredando a morte,
ao som de insuspeitas melodias,
quando anoitece...

E a noite trama e tece
as vozes ferozes dos algozes vorazes,
as procissões de andores multicores,
os risos gozosos, a ira dos capatazes,
os desmandos e desmazelos,
os amores sem pejos
e os clamores dolorosos
dos becos e brejos...

E, ninando seus pesadelos,
o restante dos humanos
apenas dorme...

A-dor-mecem semimortos,
julgando-se semideuses... ”

( Candida Papini - 'Biografia' - 1947/**** )

24/Fevereiro/2006:

“ MANHÃ NO LAGO DE TABOÃO ”
- ASES - Bragança Paulista -

“ Ser setembro e estar em Bragança
quando os ipês ainda douram
as manhãs...

Namorados sussurram
à sombra das paineiras
cujos flocos imitam neve
sobre a grama.
Sonolentas,
as garças preferem os galhos
onde ficam a cismar mistérios...

Os patos deslizam
ondulando a água,
andorinhas recortam o ar
a perseguir insetos
e as crianças riem
no parquinho colorido.

A vida é bonita e não cansa....
Eis Bragança
em compasso de espera
na garantia da primavera. ”

( Cida Moreira - 'Biografia' - 1944/**** )

27/Fevereiro/2006:

“ DESPOJO”
- ASES - Bragança Paulista -

“ Eu passei a minha vida
acumulando tralha.
Móveis tomados por cupins,
sapatos apertados e roupas
que não me servem mais,.
louças, flores de papel e
toalhinhas de crochê.

Algumas coisas por seu valor considerável,
outras por seu valor inestimável:
a almofada da mãe, o relógio do pai,
a casinha do cachorro morto.

Os quadros de santos, imagens de gesso,
santinhos, crucifixos e livretos de oração,
esses eu não dei, nem joguei,
por superstição.
Entrouxados nas gavetas, por meio dos papéis,
(que também acumulei)
folhas de rosas ressequidas, com frases bobas,
um ou outro bilhete sem nome,
recortes de jornal,
cartinhas de amor,
trechos de poesias,
cartões de natal
e até escrituras de imóveis
que já não são meus.

Mas o que me incomoda bastante
são as fotografias.
Não sei porque passei a minha vida tirando fotos,
se as olhei apenas uma vez,
quando as busquei no fotógrafo.
Estas, enchem caixas e caixas
(as quais não joguei também).
E, hoje, próxima do arrebol da existência,
Eu gasto o tempo que me sobra
Dispondo das coisas que,
Indiscriminadamente,
Acumulei.

Tenho a impressão de que não haverá tempo
Para desfazer-me de tudo o que guardei. ”

( Maris Dulce Naief Kattar Louro - 'Biografia' - 1946/**** )

28/Fevereiro/2006:

“ ETERNO APAIXONADO ”
- ASES - Bragança Paulista -

“ Quando as marcas do tempo
atingirem tua face,
quero estar contigo.......

Quando as rugas implacáveis
mudarem teu semblante,
quero estar contigo......

Mesmo se não forem tão negros os teus cabelos,
e a tua voz tão firme como outrora,
quero estar contigo o tempo inteiro,
quero estar contigo, como estou agora.

Se as tuas mãos não forem tão macias,
e se tua face perder esse rosado,
quero estar contigo, ainda mais um dia,
quero estar assim: juntinhos lado a lado.

Quando o corpo esbelto, escultural figura,
deixar seu formato num verão passado,
quero estar contigo com maior ternura,
quero estar contigo como tenho estado.

Quando forem flácidos teus lindos seios,
ou nenhum encanto teu tiver restado,
quero estar contigo sem qualquer receio,
de n'algum momento haver te abandonado.

E se a tua vida, um dia, a morte infame,
o aço frio do alfanje houver ceifado,
mais do que nunca eu estarei contigo,
igual a sempre, ETERNO APAIXONADO... ”

( José Solha - 'Biografia' - 1933/**** )

 

 

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